sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Edgar e Anna: o começo



Enquanto as crianças brincavam lá fora, a garota de cabelos de fogo observava tudo de seu balanço branco. Sorria. Como era bom vê-las correndo. Sentia-se livre como aquelas pessoinhas. Uma das garotinhas, de cachos dourados, parecia que ia voar, tão rápido passava por ela.
A jovem de cabeça de fogo sorriu e balançou-se até seus pés esquecerem como era tocar o chão. Queria voar, como a menina de cachos d’ouro. Fechou os olhos e sentiu as chamas de suas mechas roçarem suas bochechas. 
Ouviu passos vindos da casa. Parou. Tão bruscamente que quase atingiu seu objetivo de voar. Olhou para trás. Um rapaz caminhava em sua direção.
-Olá- disse a garota, ficando tão corada quanto seus cabelos. Ele sorriu. Tinha olhos difíceis de decifrar, porém era indiscutível a beleza dos mesmos.
Sentou-se ao lado da jovem, sem pedir licença. Parecia que já sabia que seria convidado.
-Sou Edgar- seus olhos pareceram mais vivos e coloridos neste momento.
A garota balançou a cabeça, afastando a ideia. “Que coisa mais Crepúsculo” pensou desdenhosa.
-Anna- respondeu afastando uma mecha de fogo dos olhos cinzas.
O sorriso de Edgar alargou-se. O de Anna cresceu. Se olharam. Aqueles pares de olhos misteriosos se observaram. E se encontraram. Finalmente.

Hora do rango


Os imensos olhos verdes de Jaffar espreitavam a escuridão. Eduarda já estava dormindo. Esparramada em sua cama. Porém, o gato estava com fome. Miou e não obteve resposta de sua dona, que apenas se revirou na cama. Resmungando algo como “vai dormir”. Mas, Jaffar não queria dormir. Jaffar queria encher sua pança laranja de ração. Ração de carne. Lambeu os beiços felinos e apertou os olhinhos.
Procurou até encontrar a mina de ouro. Ou o pacote de ração, como preferir. Em cima do balcão da cozinha. Tão belo, tão próximo, tão cheio de ração. Saltou com vontade, porém a gravidade mandou lembranças e Jaffar se estatelou no chão. Não antes de passar as garras pelo pacote de ração, que caiu com ele.
Estava feito o banquete. O gato comeu tudo, até lamber o piso com sua linguinha rosada e áspera. Depois, caminhou lentamente para o sofá e lá adormeceu.
Eduarda acordou de um sonho estranho. Envolvendo Jaffar e pedaços de ração que voavam pela casa. Ao chegar na cozinha encontrou o saco de comida do bichano no chão e vazio.
A garota suspirou e se perguntou o quanto de seu sonho correspondia a realidade.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sobre espirros e amor



Espirro. Espirro. Fungada. Espirro.
-Sai daqui, Pedro- resmungou Alice atirada no sofá.
Uma colcha xadrez aquecia o corpo pequenino da jovem.  Ela tremia. Ela estava resfriada.
-Deixa de ser fresca, Alice- disse Pedro entregando uma xícara de chá fumegando pra ela.
A fumaça adocicada da bebida subia em grandes aspirais. Alice fez uma careta.
-Não quero que me veja morrer- ela disse bebendo o chá.
-Sem drama- devolveu Pedro, sentou-se no sofá.
Alice fungou e bebeu o chá-de-sei-lá-o-quê.  Ela preferia não saber. Só beberia tudo em silêncio.
-Boa garota- disse Pedro, quando ela lhe entregou a xícara vazia.
Alice mostrou a língua e Pedro concluiu que a jovem já estava bem melhor. Ele beijou sua testa. Abraçou-a. Ela gemeu.
-Eu vou morrer!- reclamou ela.
-Se você não parar de dizer isso eu mesmo dou um jeito nisso.
-Duvido.
Pedro suspirou e a apertou com mais força.
-Eu também.
-Pedro...
-Sim?
-Acho que te amo.
-Eu também acho.
-Que bom.
-É.
-Tem mais chá?
-Tem.
Alice fungou.
-Eu vou trazer mais- disse Pedro levantando-se
Alice sorriu. Agora ela sabia que o ditado estava correto. Quem ama, cuida. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O sofá


Virou a chave devagar. Já era tarde. Entrou. Encontrou Anna dormindo no sofá. A cabeça levemente tombada para o lado. Os cabelos avermelhados caindo sobre a almofada, quase tocando o chão. Tão linda. A boca vermelha entreaberta. Ressonava. Dormia.
-Anna?- chamou Edgar suavemente. Não queria assustá-la. Já estava triste demais por ter se atrasado.
Largou as malas em um canto.
-Anna?-chamou de novo.
-Hmmmm? - ela se remexeu e abriu seus olhos acinzentados pareciam mais profundos do que nunca. Com o que será que sonhara?
-Desculpe pelo atraso- disse Edgar sentando-se no chão. Na frente do sofá.
-Vem aqui- Anna esticou o braço pálido para Edgar. Chamando-o. Ele foi.
-Me desculpe? Não foi minha culpa, o voo foi cancelado porque...
-Cala boca- murmurou Anna.
-O quê?
-Eu te puxei para o sofá ao meu lado. E coloquei sua mão envolta da minha cintura. Acha que eu não te perdoei?
-Acho que sim, que me perdoou.
Anna sorriu.
-Achou certo.
Edgar beijou os cabelos de Anna. Depois seus lábios. Ficaram em silêncio por um tempo que até o relógio esqueceu de marcar. Adormeceram. Edgar sonhou com Anna. Anna voltou a sonhar com Edgar. Ao despertarem deram de cara um com o outro. Tudo estava bem.

domingo, 23 de dezembro de 2012

O dueto


Alice estava sentada diante da sua penteadeira. Terminando de traçar seus fios vermelhos em um penteado que aprendera na internet. Tudo estava silencioso quando ouviu a voz de Pedro.
-Querida, cheguei- gritou ele do primeiro andar.
-Muito original- gritou Alice em resposta.
Prendeu os cabelos com uma fita da mesma cor de seus cachos e desceu as escadas correndo.
-O que você tem aí na sacola Pe...Ah, não.
-Ah, sim!
-Não, Pedro, um karaokê, não!
-Sim!- os olhos de Pedro brilhavam tanto que Alice cogitou desligar todas as luzes da casa.
A jovem suspirou, os ombros caíram até o piso (lavado ontem) e voltaram. Pedro gostava muito de karaokês, muito mesmo. Alice aceitava ir com ele em bares para cantar por uma hora ou duas. Mas agora que Pedro comprara um, aquelas duas horas virariam vinte e quatro rapidinho.
-Pedro...
-Sh, Alice, estou instalando o karaokê- a voz dele soou meio abafada. Já que ele estava escondido atrás da televisão, perdido em meio a fios, cabos e afins.
A garota suspirou novamente. O piso já estava se acostumando a receber os ombros pesados de Alice.
-Pronto!- gritou Pedro saindo de trás da TV e fazendo Alice dar um pulo. Dessa vez seus ombros foram parar no teto- O que vamos cantar?
-Nada- disse Alice azeda.
-Sua azeda- disse Pedro- Já sei!
O rapaz começou a apertar botões loucamente. Com sorriso imenso na cara. Alice começou a se preocupar.
-My love...-começou a cantar Pedro
-Não- disse Alice dando um passo para trás.
-There's only you in my life
-Para, Pedro...
-The only thing that's right
-Tá... My first love- rendeu-se Alice- you're every breath that I take. You're every strep I make.
 Os dois continuaram o dueto. A plenos pulmões. Alice a contragosto no início. Pedro sempre rindo e a puxando pelo braço. Fazendo-a rodar na sala, até que gargalhasse. "Essa é minha Alice" pensou. A música acabou. Os dois se entreolharam. E começaram tudo de novo.

A culpa é do fim de ano


Fazia exatos três meses que tu tinhas me dito aquelas três palavrinhas. Aquela maldita jura de amor que deixou transtornada. Só três meses.
Três palavras. Três meses. Engraçado, não é? Não. Não é. Talvez irônico. Porque agora não te vejo mais. Não sei como estas, o que sentes.
Não, eu não sei se eu gostaria de saber como você está ou o que sentes. Eu nem sei porque estou pensando sobre isso. Acho que é o final de ano. Sabe? Retrospectiva e tudo mais. É, deve ser. Isso explica essas lembranças chatas que andam me perseguindo. Estilo aqueles filmes da Sessão da Tarde ou novela das 9, que a mocinha fica lembrando, lembrando, lembrando... Garota chata! Não quero ser ela. Não sou como ela! É culpa do fim de ano. É, fim de ano. Retrospectiva, com certeza. Espera, acho que já disse isso. Ah, esquece.
Nos vemos mais tarde. E, por via das dúvidas, boas festas.

Uma tarde culinária


Miranda abria e fechava as portinhas dos armários da cozinha. Andava de um lado para o outro.  Conferindo ingredientes.
-Acho que temos tudo, Roberto- disse finalmente.
Ela me convencera. Faríamos panetones neste Natal. Depois do bolo de chocolate que ela praticamente me obrigara a preparar, agora era a vez das delícias natalinas. 
Porém, eu não me importava, eu queria mesmo era ficar perto dela. Não que eu fosse confessar isso em voz alta.
-Então, vamos começar? – perguntei meio inseguro.
Miranda sorriu. Eu começava a desconfiar que ela adorava me ver sofrer na cozinha.
Porém, apesar de todos os ovos que derrubei no chão. Das uvas passas que eu comi ao invés de por na massa, o bendito panetone ficou pronto. Lindamente pronto, modéstia a parte.
Miranda sorriu novamente. Ao ver nosso trabalho culinário concluído. Suspirei. Poderia fazer mil panetones só para vê-la com esse brilho nos olhos. Não cheguei a dizer isso a ela.
 Eu não precisava de presentes este ano. Essa tarde fora o melhor que eu poderia ganhar em qualquer Natal.
Bom, isso eu disse a ele. E então, nos beijamos. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Tinha uma meia no meio do caminho


-Seu presente- disse Pedro estendo um embrulho para Alice.
-Ainda não é Natal, Pedro. Ainda bem que te comprei um calendário de presente- disse Alice, porém não hesitou um segundo antes de agarrar o pacote.
Começou a rasgar o papel colorido. Rindo. Ao presente ser revelado, porém, o sorriso sumiu.
-Que foi?- perguntou Pedro, olhos arregalados. Um sorrisinho se escondendo no canto dos lábios
-Meias? Meias vermelhas? É sério?- o rosto de Alice tinha murchado.
-Você não perdeu uma certa meia vermelha esses tempos, Al?
-Não me chama de “Al” – bufou a jovem com  o rosto da cor da meia que segurava- E eu perdi sim, a maldita da meia. E por sua culpa...
-Não lembro- devolveu Pedro
-Cala boca.
Alice ficou de expressão fechado por mais dois segundos. Depois, vestiu as meias três quartos. Suspirou.
-Droga, elas ficaram legais...
-Ninguém mais usa meias três quartos, Al.
-Então por que você me deu?
-Porque você não é como as outras- sorriu Pedro.
-Ah, Pedro... Que ensaiadinha essa cantada, parabéns.
Ele bufou.
-Isso funcionaria com outras gurias.
-Eu não sou “as outras gurias”.
-Realmente.
Alice não era como as "outras gurias" mesmo. Nem Pedro era como os outros caras. Por isso eles se davam tão bem. Por isso meias, no fim das contas, eram um bom presente. Por isso, não importava quantos pares de qualquer coisa os dois perdessem, eles sempre ficariam juntos. Nesse e muitos outros Natais. 

Um gato, uma touca e uma guria


Naquela manhã chovia canivetes, bigornas e tudo mais que se podia imaginar. Incluindo pingos d’água.  Parecia até que o mundo iria acabar.
Eduarda entrou em casa encharcada. Os cabelos negros pingavam grossas gotas que manchavam o assoalho.
-Que legal- resmungou ela.
Porém, o som de um miado a fez esquecer que tinha chuva até nos ossos.  Jaffar veio caminhando em sua direção, gordo e laranja.
-Olá-sussurrou ela, pegando o bichano- trouxe um presente para você.
Eduarda viu os olhos do gato brilharem e ele lambeu os lábios felinos.
A jovem remexeu na sacola e puxou dela uma touca vermelha.
Jaffar arregalou os olhos e miou, suplicando. Não, uma touca de Natal, não! O gato escapou do colo de sua dona e foi se esconder embaixo do sofá.
-Jaffar-chamou Eduarda, sem sucesso. Apenas um rabo laranja podia ser visto. Balançando lentamente.  
Talvez o gato saísse dali depois do fim do mundo. Ou do Natal...
Eduarda suspirou pesadamente. Foi tomar banho. Jaffar que se desemburrasse sozinho. A touca ficou jogada, perto do canto do sofá favorito do gato e de sua dona.
A garota tomou um banho demorado. Precisava esquentar os ossos, o corpo e alma. Depois daquela chuva que parecia querer arrastar a raça humana consigo.
Ao voltar para sala suspirou. Mas não de cansaço, alívio ou coisa parecida. Mas de alegria e de orgulho. O motivo? Jaffar, é claro. O bichano estava dormindo enroscado no sofá. Uma bola laranja linda. E no topo daquela bolinha felpuda algo vermelho. Uma touca natalina.  Eduarda sorriu.
-Como você fez isso, hein? – perguntou ela se aproximando e afagando o gato. Jaffar ronronou alto, como resposta. A jovem sorriu e deitou-se ao lado do seu amigo de estimação.
Porque era isso que Jaffar era. Uma bola de pelos laranja e amiga. A companhia ideal para passar o Natal. Com ou sem touca.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um presente para Valentina

Uma fita vermelha nos cabelos para combinar com o vestido da mesma cor. Há anos Valentina não usava uma fita nos cachos cor de bronze.
-Um milagre de Natal- disse ela para sua imagem no espelho.
A garota no reflexo sorriu, concordando.
A casa já estava decorada para a data. Tinha pisca-piscas saindo pelas janelas. Tudo estava pronto. Tudo estava organizado. Como a etiqueta natalina pedia. O cheiro de verbena emprestava ao local uma sensação de sonho e leveza. Só faltava um detalhe para tudo ficar perfeito.
-Só não se atrase, por favor-murmurou Valentina, olhando para o relógio de parede e depois para a porta.
Os pés da jovem não paravam quietos, compondo o que poderia ser considerado a música tema do nervosismo.
Após o que pareceu uma eternidade, ou cinco minutos, nunca saberemos, a campainha tocou. A jovem levantou-se do sofá. Passou as mãos trêmulas pelo vestido. Antes de abrir a porta já reconhecera o perfume do convidado.Café. Ele tinha cheiro de café. Valentina abriu um sorriso maior que seu apartamento.
A jovem sabia quem estava do outro lado da porta e por isso a felicidade não cabia nela. Ela sabia quem era e que seu milagre de Natal acabara de acontecer. "Valeu, Papai Noel", pensou antes de abrir a porta e receber o melhor presente que poderia ganhar.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Um guardião natalino (ou felino)


Do muro da entrada do vilarejo Sallen observava tudo, como de costume. Porém, algo estava diferente naquela noite.  As simples casinhas da cidade estavam diferentes. Todas iluminadas. Decoradas para o Natal. 
Se pudesse Sallen teria sorrido. Ou realmente o fez, não se sabe, estava muito escuro para se ter certeza. E naquela escuridão via-se apenas as luzes de Natal e os olhos azuis de Sallen. Ambos embelezando a noite da vila.  
O felino adorava Natal. Ganhava mais atenção dos moradores. Até quem passava e não afagava suas orelhas era mais gentil nessa época do ano.  A quantidade de comida aumentava. E sempre alguma menininha tentava amarrar laços vermelhos no pobre gato, que por educação, os mantinha em seu pescoço até que a criança saísse de vista.
Sallen sempre preferiu comida e carinho a laços de fita. Nada pessoal, ele só não gostava. Guisos também não eram do seu agrado. Ratos gordos e passarinhos bem nutridos, tudo bem. Estes estavam no topo da lista dos presentes de Sallen.
Não que o gato pedisse algo. As pessoas do vilarejo gostavam dele. E o amor delas era tão grande que transbordava em forma de agrados ao felino de pelo escuro. E Sallen, por sua vez, sempre amou e protegeu aquele pequeno lugar.  E as pessoas que viviam nele.
Portanto, naquele Natal não seria diferente. Com ou sem ratos gordos, laços e passarinhos, o bichano faria seu trabalho. Mas, se sobrar um pedacinho do peru, pode mandar, viu? Sallen não se ofenderá.  

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Preparativos de Natal


Já tinham colocado as luzinhas natalinas no corrimão da escada. E agora observavam sua arte do sofá.
-Ficou perfeito- disse Anna.
-Ficou torto- devolveu Edgar.
-Abstrato. De vanguarda. Inovador. Autêntico...
-Quantos adjetivos você vai usar para se desculpar?
-Já acabei- suspirou ela.
Edgar sorriu.
-Ficou lindo, Anna. Parabéns.
Anna sorriu de volta.
-Obrigada. Seu presente é esse. Um corrimão iluminado - Anna observou Edgar franzir o cenho para ela- Eu sei, é muito criativo.
Ele bufou.
-Te darei um abraço bem apertado. E talvez um beliscão no braço. Para demonstrar o quanto sou generoso.
-Inovador, meu caro.
-Uhum- murmurou Edgar.
-Por que precisamos nos presentar, mesmo?  A gente não pode só assar o azarado do peru e comer umas uvas? Enquanto olhamos nossas luzinhas na escada...
-Dia 24 a gente decide- disse Edgar beijando a testa da garota.
-Tudo bem- respondeu Anna.
Mas, ela sabia, Edgar já tinha concordado. Afinal, um era o presente do outro. E o resto era só enfeite.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Flor de Liz

Te deixei uma flor branca. Em cima do balcão. Só estou te avisando porque tenho medo que não encontres. Cuide dela para mim. Queria lhe entregar mais que isso. Entretanto, por hora é o que posso lhe oferecer sem sobressaltos e culpa. Fique com a flor, Liz. Enquanto não posso lhe dar meu coração.

domingo, 16 de dezembro de 2012

A mala de Amélia

Amélia guardou a mala cinza no fundo do armário. Não precisaria dela por um bom tempo. Escondeu-a atrás de roupas antigas. Atrás de lembranças remotas. Longe dos seus olhos negros. Longe de sua rotina. Ao menos por enquanto.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Até


Até mais. E, não me leva a mal, mas que este "mais" demore um bom tempo. Não tem nada com você, sabe. Só não consigo nem pensar no som da sua voz. E qualquer lembrança sua me embrulha o estômago. Não é nada pessoal, mas só a menção do seu nome me irrita. Mas, olha, não leva a mal, tá? Ainda podemos ser amigos. Só não me dirija a palavra, ok?
Então, era isso, até mais.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Passou


A chuva passou e o que eu sentia por você também. Aquele gosto estranho que tu deixaste na minha língua já sumiu e agora sinto apenas açúcar em meus lábios.
Ainda bem.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sobre lados esquerdos e portas antigas


Certa feita disse que o lado esquerdo do meu peito estava vazio. Você ficou furioso comigo, lembra? Saiu batendo os pés e as portas. Não me deixou concluir o raciocínio  Criança. O que quis dizer é que quando você não estava ao meu lado eu me sentia vazia. Não só do lado esquerdo, obviamente. Porém, quis deixar claro que era ali que sentia mais sua falta. Porque se você faltou as aulas de biologia, vou lhe explicar: ali fica o coração, Edgar! E aonde tu achas que eu te guardo, imbecil?
Entendeu agora? Espero que não bata mais as portas da minha casa. Ela é antiga, não suporta mais ataques de ciúmes. Não tem mais paciência para briguinhas de casal. Ela já presenciou isso demais. E eu também. Então: bora fazer as pazes?
Traga seu pijama, hoje você fica aqui. De portas fechadas. Mas sem batê-las.

Sobre chuva e saudade


Achei que fosse seus passos na escada. Descendo lentamente. Vindo me fazer companhia. Pensei ouvir os sons dos seus pés caminhando na minha direção. Mas estava enganada. Era só a chuva. Pingos barulhentos, tão diferentes das tuas passadas. Como pude me enganar?
-Vai ver é saudade- conclui em voz alta enquanto puxava o edredom até o pescoço.
E o único remédio de pronta entrega para saudade era o sono. Fechei bem meus olhos. Até sentir que os cílios superiores emendavam-se com os inferiores. Talvez eles não se separassem mais. E eu não precisasse abrir meus olhos e ver o lado esquerdo da minha cama e do meu peito vazios.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Depois da chuva


Eu corri pra você. Não me importei com a chuva. Com meu cabelo. Com o vestido de seda. Eram seus olhos verdes que eu queria. Que se dane a bolsa cara e o vestido sofisticado. Quem se importa com o rímel borrado e a sombra preta que escorria por minhas bochechas?
Eu parecia um panda fora de habitat. Mas essa não era a questão.
Eu precisava era de você, que abriu os braços para me receber. Ai de você se fizesse o contrário!
Depois de toda aquela chuva, foi você que me aqueceu. Depois daquele temporal você foi minha calmaria, cara.
Vê se faz isso mais vezes, ok? Nunca deixe de ser meu guarda-chuva nesse temporal maluco que é eu e você.

domingo, 9 de dezembro de 2012

O vestido emprestado


Foi um tiro no peito que fez o vestido branco manchar-se de vermelho. "Maldição", pensou Elaine antes de desmaiar. O vestido era emprestado. Morreria com um vestido que não era dela. E que ela havia manchado. E não poderia lavar, porque estaria morta. Ah, meu Deus! Morta. Mortinha. "Estou morrendo", concluiu Elaine. E de repente o vestido manchado e emprestado ficou em segundo plano.
Mãos seguraram o tecido branco, puxaram Elaine. Um som estranho surgiu. "Deve ser a sirene da ambulância". Tudo ficou embaçado. Depois tudo ficou preto.
Ao acordar Elaine não estava mais manchada de sangue. Vestia uma camisola branca. Branca e emprestada.
Calma, Elaine. Algumas coisas demoram mesmo para mudar.

Suspirando

-Aiai...
-Tá suspirando por quem?
-Por ninguém.
-Ah, então foi um suspiro perdido.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

De Edgar para Anna



Anna, meu bem. Aqui o frio parece que vai congelar até as pontas dos meus cabelos. Sinto sua falta mais do que sinto do Sol aquecendo minha pele. Pensar em sorvetes e ventiladores é quase um pecado aqui. Te comprei uma manta linda. Xadrez. Talvez ela chegue antes que eu. Mas eu não demoro, prometo.
Chegarei aí em tempo de consertar tudo, até nossa saudade. Chegarei em tempo de o Sol esquentar meu rosto e você meu coração.
Vê se te cuida, garota. Te amo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

De Anna para Edgar


Tá um calor infernal aqui, Edgar. E a única coisa que me veem em mente é você. Passar calor contigo seria bem melhor. Até porque na sua casa os ventiladores são mais potentes e sua mãe sempre tem sorvete no freezer. Sorvete de flocos. Com calda de chocolate.
Mas, o motivo dessa carta não é a gula ou o calor que sinto. É saudade. Quanto tempo você está fora? Uma semana? Parece uma vida, cara. Dá para voltar logo, sim? Preciso de ti. A torneira ainda esta pingando e a porta rangendo. Preciso de ti. A janela emperrou e não tem santo que abra.
Preciso de ti, Edgar. Porque te amo, mas não espalha.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Só Valentina

Jogada no sofá, Valentina ouvia cada gota de chuva que se aventurava a bater no teclado. O chimarrão tinha acabado e a eletricidade se fora. Uma fina vela azul era a única fonte de luz da casa. Valentina estava sozinha. Ela e o chimarrão vazio. Ela e a luz da vela. Ela e a chuva de verão. Ela e seus pensamentos mirabolantes. Ela e seu livro de mistérios. Ela e seu sofá aconchegante.
Ora, então, afinal de contas, Valentina não estava sozinha. Estava?

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Agridoce


Abri meu estojo apressada, precisava de uma caneta com urgência. Pressão, stress. Caneta! Caneta! Onde estava a maldita da caneta? Então, eu vi algo que fez desmanchar todo esse nervosismo. Algo bem simples. Tão pequeno quanto seu significado. Um papel de bombom. Embalagem rosa escuro. Amassada e nos confins do meu estojo.
Sorri feito uma boba. Olhei para os lados. Cogitei mostrar para alguém. Explicar o que aquele papelzinho representava. Mas ninguém compreenderia. Então, guardei-o com cuidado, no meio das canetas e do lápis. Deixei-o repousando no seu devido lugar. Onde ele valia mais que muita joia. Onde ele era doce como uma lembrança e amargo como a saudade.
Fechei o estojo e o deixei por ali, meu pequeno papel agridoce.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Nota sobre telefonemas, meias vermelhas e coelhos brancos

O telefone tocou, acordando Alice de um sonho que envolvia coelhos brancos e uma mesa enorme de chá.
-Alô?- atendeu ela, meio tonta, meio perdida, totalmente sonolenta.
-Achei sua meia- era Pedro, do outro lado da linha. Com a voz feliz de quem já estava acordado fazia eras.
-Ah- limitou-se a dizer Alice.
Pedro bufou do outro lado da linha, provocando um chiado que serviu como despertador para a jovem.
-Estou indo buscá-la- disse ela, olhando em volta. Talvez procurando onde deixara cair sua preguiça, que sumira de repente.
-Quem?
- A meia.
-Ah.
Alice bufou, produzindo um chiado que não serviu de despertador para Pedro, pois ele já estava acordado.
-Idiota, chego em 10 minutos.
-Não se atrase, Alice. Já é tarde- disse Pedro.
Por alguns segundos Alice viu um coelho branco, vestindo um  paletó, lhe mostrar um relógio dourado de bolso.
-Que estranho- disse ela, mais para si do que para Pedro.
Então, desligou o telefone, arrumou-se e foi para casa do seu namorado. Antes que resolvesse começar a conversar com o coelho. Ou pior, ele responder.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sozinho ou nem tanto

Pedro entrou no quarto abafado e imediatamente foi atacado pelo aroma de perfume doce que impregnava todo o ambiente.
-Alice...
Era o cheiro dela. Ele tinha certeza. A garota tinha ido embora, mas fizera questão de ficar. O perfume ficara, uma meia vermelha ficara, um botão de casaco ficara. Ela ficara. Todo aquele apartamento era ela agora.
-Danadinha- murmurou Pedro rindo e pegando a meia esquecida.
Dos males, os menores: Alice voltaria para buscar o que deixara. E agora, eles sabiam onde fora parar a bendita meia perdida.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um ensaio sobre a saudade

Se enroscaram, Edgar e Anna, como há muito não faziam. O cheiro de tulipas das fronhas e dos lençóis perfumava o quarto. Edgar puxou as cobertas e Anna para si. Anna deixou-se ir, junto com cobertas,  fronhas e o aroma de tulipas.
O vento balançava a cortina branca, o Sol entrava timidamente pela janela. Parecia que o astro rei não estava a fim de incomodar o casal que matava a falta um do outro.
A manhã foi crescendo, morrendo e querendo nascer como tarde. Já era hora da despedida. Fizeram questão de dizer "até breve". Anna fez Edgar prometer que não deixaria mais esse poço chamado saudade afundar-se tanto. Edgar riu e disse que ela não se livraria tão facilmente dele. 
Mais alguns beijos e a despedida de início da tarde, acabou-se só à noite. 

domingo, 25 de novembro de 2012

No outro dia


-Cafééééééé- berrou Pedro da cozinha.
Me assustei e cai do sofá da sala, meio enrolada na coberta vermelha, vestindo apenas um pé de meia da mesma cor. Meu cabelo estava todo fora do lugar. Quer dizer, mais do que o comum. E eu me perguntava aonde estava a danada da outra meia.
Era melhor eu não saber o que tinha acontecido noite passada.
-Não foi o Furacão Sandy- disse Pedro, ecoando meus pensamentos.
-Legal- respondi, juntando e vestindo meus pertences pelo caminho.
Quando cheguei na cozinha, já parecia alguém decente que sabia aonde estava.
-Ovos, pão e café- disse Pedro, fazendo um gesto largo que indicava a mesa.
Me sentei e ataquei tudo o que estava ali. Ovos, pão e café. Não necessariamente nesta ordem.
-Sempre soube que eu cozinhava bem- riu Pedro.
-Calado- respondi entre ovos e migalhas de pão.
Pedro sorriu.
-Vamos até o parque hoje. Os pombos vão gostar de comer o pouco pão que você deixou.
-Eu? -perguntei colocando a mão no peito, fingindo indignação.
-Talvez a gente nem vá. Sobrou tão pouco...- Pedro olhou tristemente para três sacolas cheias de pão. Era realmente um excelente ator. Eu esperava que ele citasse meu nome em seu agradecimento pelo Oscar.
-Acho que as pobres pombas vão me perdoar, ao menos hoje- respondi enquanto me levantava e tirava as louças da mesa.
Lavei e sequei xícaras e afins. Pedro juntou mais pães do que o número de pombas que poderiam existir no parque. Ninguém disse uma palavra sobre despedidas ou semelhantes. Passaríamos mais um dia juntos. E eu não achava nada ruim.

sábado, 24 de novembro de 2012

Espontâneo ou não

-Uma cascata de cachos- disse Pedro enquanto acariciava meus cabelos.
Nós dois estávamos deitados no sofá da sala. Ouvindo a chuva.
Comecei a rir.
-Tá rindo do que, Alice? - ele perguntou, fechando a cara. As sobrancelhas escuras se unindo.
-De como tu conseguiu ser tão brega em uma frase só - respondi. Me virei para olhar bem para ele. Queria ter certeza que meu plano de deixá-lo irritado estava funcionando. Ele bufou.
-Aposto que tu se derreteu por dentro- disse Pedro
-Aposto que tu ensaiou essa frase na frente do espelho noite passada- alfinetei pela última vez.
-Aposto que você adorou- devolveu ele. Pelo visto, meu plano de irritá-lo não estava funcionado mesmo.
-É. Tá. Ok. Maneiro. Obrigada - confessei.
-De nada.
Então, ele me abraçou. E eu soube que aquilo não fora ensaiado. Devolvi o gesto, apertando-o com mais força.
O que aconteceu depois também não foi nada ensaiado, mas, ao que me diz respeito, deu muito, muito certo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Prêmio e castigo

Sentou-lhe a mão na cara, como diriam os antigos. O rosto da esbofetada virou, fazendo-a encarar o chão por alguns minutos. Olhos se encheram de lágrimas, de ambas as partes. Mas cada uma com seus motivos.
Uma tinha a mão formigando, a outra o rosto ardendo. Cada uma com o que merecia. Uma com o prêmio e a outra com o castigo.
E assim a vida seguia, ás vezes demorando, mas sempre sendo justa.

Esclarecimentos

Enquanto eu caminhava tranquilamente pela vida, seus olhos cruzaram com os meus. Ah, meu bem, entre tanta gente, tantos humanos para lá e para cá, parecia até magia, nos encontramos assim. Eu andei de cabeça baixa, observando meus próprios passos, até sentir que deveria olhar para cima.
Até sentir você. Quando te vi, me assustei, confesso. Não é comum me olharem assim. Então, sorri por dentro e desviei o olhar. Bobagem, eu sei. Só queria te esclarecer esse detalhe: eu sorri, não meus lábios, mas minha alma riu. Queria te contar isso antes que tu fosses para cama. Queria te dizer isso antes que eu não te visse mais. Queria te falar outras duas, ou três coisas, mas deixa para lá. Hoje ficamos por isso mesmo, boa noite.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Em pedaços

Entrou partindo minha cara, meu coração e o vaso da vovó em pedaços. Maldito! O vaso da vovó, não! Devolvi o tapa e o fiz juntar os cacos que poderiam ser juntados. Você jurou que consertaria o vaso da vovó. O chão. As cortinas. A mesa. O trinque emperrado há dias. A torneira. A gaveta.
Porém, não falou nada sobre meu rosto.
 Muito menos sobre o meu coração.

sábado, 17 de novembro de 2012

Um favorzinho, dona Lua


Valentina jantou com a janela aberta. Porque, na falta de alguém, a lua é sempre uma boa companhia. A danada é dessas, cheia de fases, mas tá sempre no lugar combinado, na hora marcada. Valentina podia contar com a lua. Para iluminar o prato branco de porcelana e a toalha de mesa azul turquesa. Para dar brilho ao arranjo de tulipas vermelhas e a suas mãos pálidas.
Valentina desligara as luzes de toda a casa. Resolvera economizar eletricidade e pedir esse pequeno favor a lua. Que iluminasse sua pequena sala, aquela noite. Que lhe iluminasse a mente nas próximas horas.
Que lhe dez luz pelo resto da vida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O começo do País das Maravilhas de Pedro

Apenas erguia os olhos, de vez enquanto. Nada parecia perturbar sua leitura. Intrigado, comecei a observá-la. Ver sua testa enrugar, seu olhos brilharem e seus lábios esboçarem sorrisos, conforme virava as páginas de seu livro amarelado.
Os cabelos compridos desciam pelos ombros , e ás vezes, invadiam linhas e parágrafos. Então, ela os afastava com delicadeza e voltava para seu mundo de papel.
Passaram-se um sem número de minutos até me levantar e caminhar na sua direção.
-Olá, meu nome é Pedro.
Ela desprendeu seus olhos das páginas meio a contragosto, olhou para mim e sorriu.
-Sou Alice - respondeu ela
E aí tudo começou.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Um gesto oportuno


Naquela hora eu senti muito medo. Me senti perdida. Como se estive presa em um labirinto. Olhei confusa para os lados e vi você, com o olhar calmo e seguro, me esticar a mão. Eu a segurei, como um naufrago segura uma tábua salva vidas.
Então tudo ficou calmo, caminhei segura ao seu lado.Sentindo a confiança que você me passava, em cada passo. Em cada batida do seu coração.
Como ficar nervosa? Como me sentir abandonada? Tudo tinha entrado nos eixos por causa de você.
Na hora exata em que me estendeu a mão.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Minha cabeça dói


A melhor dor de cabeça é aquela que é fruto de tanto pensar. De tanto questionar, dialogar e outros verbos maneiros e sábios, todos no infinitivo. Todos no plural.
Quando você se encontra com gente que realmente pensa e gosta de pensar, a coisa muda. As conversas mudam, o ar muda. Meu humor muda.
E eu até começo a acreditar nos humanos, novamente.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Na presença do Rei


Ele tinha olhos azuis e um cabelo bonito. Uma voz rouca e um sorriso largo. Falava com toda simpatia que se pode desejar de alguém, porém não era nada disso que o deixava  encantador aos olhos daquelas jovens.
Seu charme, seu verdadeiro charme, estava na mesa ao lado. Uma simples caneca, com a foto de um tal de Elvis Presley. O pequeno objeto preenchia o ambiente de uma maneira quase sobrenatural. Conversas eram secundárias, assuntos eram deixados de lado. O que importava mesmo era apenas aquele Elvis sexy e sorridente, cheio de café quente, na beira da mesa. O resto? O resto eram meros plebeus, perto do Rei do Rock.

domingo, 11 de novembro de 2012

Sobre um sonho ou não

Foi tão real, mexera tão profundamente com os cinco sentidos de Valentina, que ao acordar ela poderia jurar que tudo fora real. Ficou deitada em sua cama, em silêncio e no escuro. Revisitando tudo o que sonhara. Cada detalhe, até adormecer novamente.
De manhã, já não lembrava mais de alguns detalhes. O sonho já tinha aquela nuvem confusa que costumam adquirir depois de um tempo. O que restara para Valentina eram as sensações. Ah, e essas eram tão reais que até agora, na hora do jantar, ela se perguntava se o que acontecera fora realmente um sonho. Ou uma lembrança mal lembrada.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Vontade


Tenho vontade de te abraçar, de te agradecer e de te socar, bem na boca do estômago, para ver se tu aprende. Tenho vontade de te beijar, te mandar para aquele lugar e depois dizer que era só brincadeira. Tenho vontade de ter por perto e de te mandar embora.
No fim, depois de muita análise, cheguei a uma conclusão. Tenho vontade é de você.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

É recíproco, cara


-É tua culpa eu ficar acordada até essa hora- reclamei enquanto me espreguiçava na cama.
-Claro- devolveu Pedro, porque, como ele bem sabia, com louca não se discute- É só uma da manhã.
-É tarde- bocejei
-É cedo em algum lugar, Alice- jogou ele na minha cara.
Suspirei e me rolei na cama, para longe dele.
-Mas não aqui, Pedro. Boa noite.
-Chata, sonolenta, boboca, preguiçosa.
Sorri, encarando a parede.
-Também te amo, cara.

Tudo tão silencioso


Estava tudo tão silencioso que eu podia ouvir minha respiração. Estava tudo tão silencioso que eu podia ouvir seu coração batendo. Estava tudo tão silencioso que por alguns segundos idiotas eu imaginei que você pudesse ouvir meus pensamentos e o meu coração. Que bobagem, não é? Não é?
Depois de um tempo eu não ouvi mais sua respiração, pois já estávamos sincronizados. Se eu ouvisse você eu me ouvia e tudo, no final, era a mesma coisa. Nós éramos a mesma coisa.
Até eu adormecer com o vento no meu rosto, sua respiração me embalando e você sussurrando três palavras e o meu nome.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Desorganizaram-se


A janela já deveria estar fechada, as luzes já deveriam estar apagadas e você e eu devidamente aconchegados. Mas essa coisa de obrigações e deveres anda nos atormentando. Nossa preferência agora é ficar até tarde de porta aberta, olhando para o céu escuro. Como naquela noite que você me contou histórias sobre constelações até eu adormecer. Nossos planos agora não existem, e é bem melhor assim. Coisa chata lista de supermercado, de afazeres. Ainda bem que percebemos que com a gente esse tipo de coisa não funciona. Ainda bem que mudamos a tempo.
E que agora continue assim, porque já que o time está ganhando, é melhor deixá-lo exatamente como está.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Vestida de branco e lágrimas


Anita virou-se e esperou encontrar Victor com a mão estendida e os olhos marejados em um pedido silencioso para que ela ficasse ao seu lado, case-se com ele. Mas não havia ninguém ali. Victor havia ido embora como Anita queria... Queria para o bem dele. Ela o preferia vivo longe dela, do que morto aos seus pés. Preferia o coração dele batendo longe dos seus olhos e para isso o partiria em pedaços. Era melhor que um coração inteiro sem pulsar uma gota de sangue.
Anita levantou a cabeça, o rosto manchado pelas lágrimas que derramava há dias, quase sem parar.
-É melhor assim-sussurrou para si mesma e continuou andando pela capela em direção ao seu futuro marido.


Trecho escrito dia 31 de dezembro de 2010. Para um conto antigo, há muito deletado. 

A volta de Sallen


Sallen gostava de Halloween, aquele gato malandro.  Era sua data favorita, diziam alguns moradores da vila. O bichano de pelo negro subia no muro que dividia o lugarejo do restante do planeta e ali ficava. Mais imponente que nos outros dias.
Há quem diga que existe sabedoria nos profundos olhos de Sallen. Os menos imaginativos dizem que é apenas vontade de comer sardinhas. Mas uma coisa é certa: o felino passeia com mais animo pela entrada do vilarejo no dia 31 de outubro.
Dona Margarete, que traz restos de comida para Sallen, diz que o pelo do gato parece ficar mais lustroso conforme a data se aproxima. Seu Pablo diz que é coincidência. Só porque toda vez que esta época se aproxima o bichano fica feliz isso não quer dizer que é sua data favorita.
Os moradores sempre tiveram e sempre terão dúvidas sobre Sallen e sua suposta magia. Mas que o gato conquistou a simpatia de todos os habitantes da vila, ah, isso é certo. Logo, não importa o mês, o dia ou o ano, Sallen sempre terá sua comida, seu carinho e uma reputação e uma vila para zelar. 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Perfume noturno


Joguei o roupão em cima da porta do guarda-roupa e me atirei na cama ao seu lado. Você sorriu, meio sonolento, meio acordado. Um pouco comigo, outro pouco fora de órbita.
 Me aconcheguei em você, bem do seu lado. Você resmungou algo sobre já estar tarde para lavar meus cabelos. Mas lembro também que elogiou o perfume do meu shampoo.
-Hummm, camomila- é a última coisa que ouvi você dizer antes de adormecer.
Antes de cair no mesmo sono doce e profundo que o seu.
Antes de dormir para sonhar com você. Antes de acordar e te ver ao meu lado.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Nota sobre alguma coisa


Não sorria assim para mim. Lembra? Tínhamos combinado, você não sorri e eu não me derreto toda por você. Era uma espécie de contrato que assinamos e ninguém cumpriu.
Porque não consigo ficar sem sorrir quando te vejo. E você não para de rir pra mim.

sábado, 20 de outubro de 2012

Apenas um


E eles são Yin e Yang. Se encaixam e são completos. Porque essa coisa de ser igual é bobagem, porque muitas semelhanças é besteira. Bom mesmo é o encaixe deles.  O espaço que um ocupa no outro. Ela tem aquilo e ele aquele outro. Então, os dois juntos tem tudo.
Ela compra as peças vermelhas e ele as azuis. E os dois são roxo. Eles funcionam bem separados e perfeitamente juntos. É assustador e animador vê-los completar as frases um do outro. É assustador, estranho e animador vê-los completar os pensamentos um do outro.
É assustador, animador, estranho e compreensível vê-los se completarem. Até porque, não sei se lhes contei, mas eles são Yin e Yang. O preto e o branco. O cinza. O vermelho e o azul. O roxo. Os dois, na realidade, são um.

domingo, 14 de outubro de 2012

Ele procurava Nárnia

Sinais de patinhas felinas estavam espalhados por toda a cama de Eduarda.
-Jaffar...-resmungou ela baixinho.
Porém, ao olhar pelo quarto não encontrou sinais do gato. Embaixo da cama? Nada. Em cima da cama? Só as manchas das patas de Jaffar. Na poltrona? Apenas algumas peças de roupa que precisavam ser lavadas. Nenhum sinal daquele bichano laranja. Até Eduarda direcionar seu olhar para o guarda-roupa.
-Ah, não...
A porta central estava entreaberta e de lá saia uma faixa peluda e alaranjada, que balançava lentamente. Da esquerda para direita. Da direita para a esquerda.
-Tsc, tsc - disse a jovem enquanto abria a porta do guarda-roupa.
-MIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAAAAAU- protestou Jaffar indignado.
Porém, já era muito tarde e Eduarda já o carregava no colo.
Primeiro o gato bufou, enraivecido porque seus planos tinham sido interrompidos. Mas, logo depois, resignou-se e começou a ronronar.
-Queria ir para Nárnia, é?- perguntou Eduarda docemente, enquanto embalava o bichano no colo.
Jaffar arregalou seus olhos verdes diante a pergunta de sua dona e Eduarda considerou aquilo como um sim.
Afinal, quem nunca quis ir para Nárnia?

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Alaranjadamente sedutor


Senti aquelas patinhas macias passeando pela cama e de repente seu ronronar encheu o quarto. Tentei me conter, mas foi impossível. Um sorriso brotou em meus lábios. Jaffar viera me ver.
-Miau- ele cumprimentou, com seus olhos verdes brilhando em meio a penumbra do meu quarto.
-Olá- respondi puxando-o para perto de mim.
-Grrrrrrrr- reclamou o bichano e depois voltou a ronronar, aconchegado ao meu lado.
O resto da manhã passou voando .E quando percebi já eram 10h e tive que enxotar Jaffar educadamente, se isso é algo possível.
O gato pulou da cama, mal humorado, e saiu rebolando do quarto, o rabo, de persa alaranjado, ondulando pra lá e pra cá.
Cinco minutos depois, eu saia apressada do quarto e lá estava Jaffar. Sentado na poltrona da sala, os bigodes pingando. Sujos de leite.  Não olhei fixamente nos olhos dele, obviamente. Porque se o fizesse me derreteria e me jogaria no sofá ao lado, para poder acaricia-lo e cuidá-lo o dia inteiro.
“Eduarda, solta esse gato um minuto, por favor!”, é uma das frases (entre variações) que mais escuto desde que essa coisa felpuda e alaranjada entrou na minha vida.  Vocês me entenderiam se conhecessem Jaffar e seus olhos verdes, sua carinha alaranjada e seu rebolado felino.
O dia que você, caro leitor, por seus olhos em Jaffar você irá me entender. E tudo fará sentido.