domingo, 25 de novembro de 2012

No outro dia


-Cafééééééé- berrou Pedro da cozinha.
Me assustei e cai do sofá da sala, meio enrolada na coberta vermelha, vestindo apenas um pé de meia da mesma cor. Meu cabelo estava todo fora do lugar. Quer dizer, mais do que o comum. E eu me perguntava aonde estava a danada da outra meia.
Era melhor eu não saber o que tinha acontecido noite passada.
-Não foi o Furacão Sandy- disse Pedro, ecoando meus pensamentos.
-Legal- respondi, juntando e vestindo meus pertences pelo caminho.
Quando cheguei na cozinha, já parecia alguém decente que sabia aonde estava.
-Ovos, pão e café- disse Pedro, fazendo um gesto largo que indicava a mesa.
Me sentei e ataquei tudo o que estava ali. Ovos, pão e café. Não necessariamente nesta ordem.
-Sempre soube que eu cozinhava bem- riu Pedro.
-Calado- respondi entre ovos e migalhas de pão.
Pedro sorriu.
-Vamos até o parque hoje. Os pombos vão gostar de comer o pouco pão que você deixou.
-Eu? -perguntei colocando a mão no peito, fingindo indignação.
-Talvez a gente nem vá. Sobrou tão pouco...- Pedro olhou tristemente para três sacolas cheias de pão. Era realmente um excelente ator. Eu esperava que ele citasse meu nome em seu agradecimento pelo Oscar.
-Acho que as pobres pombas vão me perdoar, ao menos hoje- respondi enquanto me levantava e tirava as louças da mesa.
Lavei e sequei xícaras e afins. Pedro juntou mais pães do que o número de pombas que poderiam existir no parque. Ninguém disse uma palavra sobre despedidas ou semelhantes. Passaríamos mais um dia juntos. E eu não achava nada ruim.

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