sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Como em um sonho

Eu tinha acabado de me mudar. Colocava a última caixa de papelão no chão da garagem nova. Foi quando eu ouvi aquela voz conhecida e aquele violão tocar a música que sempre fazia meu coração disparar. Fiquei confusa por um instante.
-Ué!
Permaneci um tempo tentando separar a música do restante do barulho que chegava até mim. Me senti uma gata esticando as orelhas, querendo peneirar aquela voz no meio de tanto ruído.
-Mas não pode ser...
Saí de casa toda desasada, como diria uma parente minha, e fui ouvindo aquela voz. Eu a seguia como o Pica Pau segue a fumaça da torta, nos desenhos animados. Sabe? Eu sabia. Tinha consciência plena de onde eu deveria ir. Andei um pouco e te vi parado em frente a uma casa branca tão linda. O violão era igualzinho ao que eu tinha gravado nas minhas lembranças daquelas tardes de março. Tu tinha envelhecido o quê? Um dia ou dois, apesar de termos ficado separados bem mais.
No meio da música tu sorri pra mim. Desgraçado!, eu penso, mas rio de volta. Agora sim, eu estava em casa. Tinha finalmente encontrado meu lar.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Cor de lua

Então eu te vi bem de longe e distraída, olhando pro céu. Teus olhos negros me pareciam nuvens carregadas, mas apesar disso tu sorrias. Olhei pro céu e vi a lua toda linda, mas nem chegava ao teus pés, Melissa. Sorri. Depois baixei meu olhar pra ti e tu estavas linda com a pele na melhor das cores. Tua pele, minha querida, tinha a cor azulada da lua. Tu inteira era lua, Melissa. Era linda e lua. Pena só que não era minha, mas me basta que tu sejas Melissa e tudo já é mais lindo. Como a cor da lua.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Familiar

Que estranho. Parecia que eu já tinha visto ele em algum lugar. Tudo nele me lembrava ele e como ele me lembraria ele mesmo se eu nunca tinha o visto antes daquele dia na praça? Me recordo de vê-lo sorrir pra mim e meus músculos do rosto fugirem totalmente ao me domínio e o responderem com um sorriso bem maior que o dele. Mas que ridícula!
Como aquele sorriso era familiar... Deus do céu, era a primeira vez que ele sorria pra mim e eu podia jurar que aquele sorriso era meu lar fazia anos. Devo estar assistindo muita novela, lendo muito livro. Mas... Como eu tinha certeza que aquela ruguinha apareceria no canto do olho direito quando ele sorrisse? Como eu sabia que os olhos dele pareciam mais verdes quando ele ria? Tsc. Que bobagem... Mas ele me lembra alguém, Deus do céu, quem? Um ator, talvez. Aquele bonitão da novela das 18h ou o Comendador que tá na outra novela agora. Nah, ele é familiar, mas não é parecido com ninguém. Ele é lindo, aliás. Lindo e familiar.
Da onde que eu conheço ele? Como eu sabia o nome dele antes que se apresentasse? Por que minhas pernas tremeram quando eu ouvi a voz dele, antes mesmo de me virar e ver aquele sorriso e aqueles olhos que pareciam já ter me visto tantas vezes e me acolhido outras tantas?
Bom, eu não faço ideia de nada disso por enquanto. Quem sabe na semana que vem, que a gente combinou de se encontrar na mesma praça, eu consiga responder todas essas perguntas.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Missão comprida

Ela, fazia dias, estava atucanada porque não via o Sol. Alice era o Sol, mesmo com toda aquela pele branquinha feito leite. Pedro já estava preocupado com a sua amada e com o jeito que ela amuava e murchava abaixo de tanta chuva.
Depois de alguns dias de intenso esforço para alegrar Alice, Pedro desistiu, era o Sol que ela queria e não havia jeito dele aparecer.
Foi então que, em uma bela tarde, feito um cabum! ele apareceu. Tão amarelo, redondo e irreconhecível que Alice piscou seus olhos grandes algumas vezes antes de ter certeza e sorrir. Pedro quase cantou de alegria. Saiu correndo para o jardim enquanto Alice dizia:
-Pedro olha o...Pedro?
Então o sorriso da moça que já era do tamanho do astro rei cresceu mais ao ver seu Pedro carregando consigo um buquê de flores rosas. Aquelas que dão na grama da gente no começo da primavera. Aquelas que Alice simplesmente ama quase mais do que o Sol.
-Ora - derreteu-se ela.
Ele lhe entregou as flores, deu-lhe um beijo na testa e saiu. Pedro não precisava de mais nada porque o sorriso de Alice, seu objetivo, ele já conseguira alcançar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Cheiro de convite

Tu tinha cheiro de erva doce, Melissa. Logo senti teu cheiro, naquela tarde que a chuva molhava a terra e tu passou por mim. Hoje eu não sei dizer se era pele ou cabelo, mas era tu que cheirava a erva doce, essa certeza eu tenho, Melissa.
Eu tenho um convite, também. Vem tomar café comigo, Melissa? Juro que te faço um café bem fraco pra não perder teu cheio de erva doce.
Vem por favor, Melissa e se puder, fica.