sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Festa

-Uma vez me disseram que gostar é quando tem uma festa de aniversário no peito da gente.
-Acho que tu me deve parabéns então.
- Por quê? Tem festa aí? No teu peito?
-Uhum. Das grandes! E tu é convidado de honra.
-Levo presente?
-Traz futuro também. E não te atrasa.
-Pode deixar. Chego logo. E bolo tem?
-Tem tudo de doce.
-Tem tu?
-De monte.
-Maravilha. Feliz Aniversário então.
-Obrigada. Fica pra janta?
-Fico.
-Pro café?
-Fico.
-Não vai mais embora?
-Não.
-Que bom. Agora, me ajuda a servir a torta. Depois a gente vê dos pacotes de presente.
-E de futuro.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Quinta de junho

Ás vezes parece junho, mas eu não gosto de junho. Eu gosto do frio de junho, que eu encontro e abraço em outros meses também. Mas não gosto mais de junho. Nem é culpa de junho mesmo. Mas ainda sim, não gosto dele.
Eu poderia não gostar de maio, mas eu não gosto de junho. Só gosto do frio de junho. Desse eu gosto. Gosto das férias de junho também. Mas não de junho. Eu tenho um pouco de medo de junho, na verdade. Talvez não seja falta de simpatia por ele. Talvez seja receio dele.
Mas eu fico bem, se junho vier e eu não estiver sozinha.
Eu fico bem. Se eu não ficar só.
Eu fico bem, se tu me cobrires com tua coberta.
Numa quinta-feira fria de junho.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Era uma casinha

Era uma casinha de madeira branca e linda. Perto do mar e linda. Pequena e linda. Da onde se podia ver um pôr-do-sol também lindo. Laranja e lindo. Aonde se passavam tardes lindas. Noites lindas. Manhãs lindas.
Lá na casinha branca dá para ouvir o mar. Dá pra se ouvir as gaivotas. Dá para se ouvir o silêncio. Dá para se sentir a paz.
Lá na casinha branca de madeira dá para ser o que se é e, principalmente, ser feliz.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

De doce, de amor

A pequena se labuzou de rosquinhas. Comeu até se perguntar como poderia não haver mais espaço na sua barriguinha de 8 anos.
Mas sempre tinha espaço. Então, quando veio o pudim, ela deu um jeitinho. Quando veio o doce de laranja também. Quando veio o bolo de chocolate, coube mais uns dois pedaços. Cabia tudo naquela barriguinha.
Cabia tudo que era feito de doce. Tudo que era feito de amor.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Gratos

De pele gasta, de cabelos gastos e grisalhos a senhorinha se embala na cadeira da varanda. O vento balança os poucos cachos que haviam se desprendido de seu coque elegante. Os grisalhos fios roçam nas bochechas rosadas de Camélia enquanto ela olha pra frente. Sempre pra frente.
A vovózinha olha para seu jardim. Cheio de rosas, de margaridas e de camélias. As últimas, plantadas pelo seu marido, Onofre.
-Aliás, por onde anda o velho?- ela pensa em voz alta.
A resposta é um tilintar de vidros.
Onofre aparece na varanda com uma bandeja e copos lotados de suco de limão.
-Pra você, minha flor- ele diz entregando, trêmulo, um copo para a mulher.
Ela o pega sorrindo e bebe metade num gole só.
-Flores tem bastante sede- diz Onofre.
-É o que tu sempre me disse, meu velho.
-E a Carmem? Vem hoje? Aquela filha ingrata!
-Deve vir, se não deserdo ela.
Onofre ri.
-Tomara que ela traga as crianças. Faz tempo que o Benjamim e a Ana não vem.
-Faz tempo que o Benjamim e a Ana não são mais crianças, Onofre.
O velho revira os olhos.
-Que eles venham.
-Eles virão.
-Aliás, querida.
-Que foi?
-Feliz Aniversário.
-Obrigada, meu velho.
-Te amo, minha flor.
-Obrigada.
-Camélia...
-Te amo, seu velho bobo. Muito.
-Obrigado.