domingo, 23 de setembro de 2012

Invísvel


Ela segurou a caneta azul, uma, duas, três vezes. Em todas elas, a soltou com um suspiro pesado. Parecia que sempre que tentava escrever algo, era censurada. Uma proibição invisível. "Você sabe o que dirão, não é? Sabe que terá que se explicar?", perguntava uma voz estranha vinda sabe-se lá de onde. Sim, ela sabia. Mas queria escrever. Precisava. E por mais humilhantes que fossem algumas linhas elas precisavam aparecer, serem vistas. Porém existia essa mão invísivel que lhe apertava o punho toda vez que ela tentava escrever certas coisas. E quando esta mão afrouxava... Lhe faltavam palavras. Maldição! Talvez algumas linhas não devam realmente ser escritas. Apenas pensadas. Apenas planejadas.
Ao menos por enquanto.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Vá dormir


E vigiam cada linha. Cada palavra. Cada gesto.  À procura de sinais e piadas, riem escondidos e falam coisas pela metade. Tão irritante. Tão previsível.  Depois quando apertam as mãos da jovem, perguntando se está tudo bem, estranham ao ouvir uma resposta negativa.
 Ela estava sufocada, sentindo um aperto tão grande que as lágrimas de seus olhos secavam antes de rolarem pelo rosto. Mas, uma ou duas mordidas nos lábios e tudo estava bem novamente. Três ou quatro suspiros, um café, um passeio, um capítulo de um livro, um programa de tv depois e...
Deixa pra lá, já era hora de dormir. 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sobre aquecer a alma


Valentina olhou para o céu, fez seus olhos azuis encararem o infinito cinza que cobria a cidade naquela manhã. Ficou mais tempo do que o habitual na sacada de sua casa, sentindo o vento enrolar seus cabelos, os lábios ressecarem e tentando manter os dedos aquecidos em torno da xícara de café.  A chuva parava em grandes intervalos agora, e apesar das nuvens pesadas que pairavam sobre a sua cabeça, tudo parecia estar no seu devido lugar. Nada melhor que um sol particular para aquecer nossa alma.
Depois do café da manhã, Valentina saiu de casa. Algumas gotas de chuva caiam aqui e ali, afim apenas de marcar presença. Nada de raios. Valentina odeia raios. Quando no meio da manhã o mundo parecia querer derreter-se, ela não se importou. Seus pensamentos estavam focados em outras coisas, fazendo do tempo um mero detalhe. Obviamente ela tremia de frio, mas não importava. É claro que seu cabelo voava em direções sem sentido e sua pele parecia mais branca que o convencional, mas não havia importância. Pois logo ao lado estava algo mais essencial. Nada melhor que um sol particular para aquecer nossa alma.
Depois quando um ou dois relâmpagos cortaram o céu, a mesma Valentina que sempre se assustava com a presença luminosa deles, apenas saiu correndo e rindo. Eles eram apenas visões que ela tivera pelo canto do olho.  Pouco comparáveis com o que acabara de ocorrer. Com o espírito luminoso de Valentina. Nada melhor que um sol particular para aquecer  nossa alma.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Tolo e passageiro


Valentina não poderia afirmar o que estava mais acinzentado naquele dia. O céu, seus olhos ou o seu humor. Por vezes naquele dia, ela poderia jurar que a chuva não pararia e que ela precisaria fugir dos raios e relâmpagos pelo resto de sua vida.
Porém, como Valentina é dramática e exagerada, ela não percebeu que era apenas uma tempestade passageira, sem importância. Quando a garota desemburrou o rosto e desenrugou a testa, ela pode ver o Sol surgindo novamente. Os passarinhos comemorando e a chuva indo embora.
Os olhos de Valentina voltaram ao azul habitual, seu humor ao estado natural e o temporal, aquele sem importância e passageiro, mero acidente de percurso, fora embora.
Deixando apenas o Sol para aquecer Valentina e seus desejos. 

domingo, 2 de setembro de 2012

Ah, o domingo!


Domingo. Três xícaras de café. Dor de cabeça e olhos pesados. Consequência de esperar algo que não vai acontecer. Não hoje. Talvez esta semana ainda. Quem sabe em todos os dias úteis, mas não hoje, não no domingo. O pesado, parado e tedioso domingo. O dia da semana que sofre bullying que é rejeitado e mal falado, mas que não faz nada para mudar esta fama. Ele é sempre assim, lento e de má vontade. Ele sempre me deixa longe e perto das coisas que quero. Por isso nada vai acontecer no domingo, porque domingo não  é dia de acontecimentos. Domingo é dia de saudade.