quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Noite

Noite estrelada. Fogos de artifício.
-Feliz Ano Novo, Mariana. Aonde tu estiver.
-Feliz Ano Novo, Rodrigo - respondeu Mariana, onde ela estava, longe, com a mão no coração.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sempre

Que sempre seja amor. Que sempre seja pra sempre. Que sempre faça bem. Pra sempre.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Remédio

Foi só o gato deitar em cima da barriga dela pra toda a dor de estômago ir embora. Pra toda a agonia ir embora. Pra toda a paz entrar pela janela, pra tudo de bom durar. A noite inteira. A vida inteira.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Surpresa

-Tenho saudade. Volta logo.
- Eu já tô chegando.
-Promete?
-Não.
-...
-Mas abre a porta pra mim que a gente conversa.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Palavra e fogo

-Tu deveria ter mais cuidado com o que fala.
-Ué, por quê?
-Porque palavra queima. É pior que fogo.
-Bah, pior que é verdade.
-Pior. Pior que é.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Longa espera

Rodrigo tava com um aperto de saudade no peito. O calor não ajudava. Não ajudava porque incomodava e não ajudava porque não trazia Mariana. A guria costumava ir pra estância só no inverno. De resto. Só saudade. De resto Rodrigo só era saudade de Mariana. Era esperar, esperar passar o calor, esperar esfriar, esperar vir as férias e esperar por Mariana. Pela chegada da guria amada. Para parar de esperar e voltar a viver.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Agradecer

Agradecer é algo que deveria ser feito com mais frequência, mas a gente esquece. Na verdade, às vezes, nem precisa. Não com palavras, ao menos. Olhares de agradecimento, sorrisos, eles podem dizer muito e hoje eu disse muito com sorrisos e olhares. Agradeci com muito, muito sorrisos e olhares. Tenho gente que faz tão bem pra mim. Espero fazer o mesmo pra essas pessoas também.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Carta de agradecimento

Gostaria de agradecer aqui por você fazer meus domingos mais maneiros. Gostaria de agradecer aqui por você fazer minhas semanas mais maneiras. Gostaria de agradecer aqui por você fazer meus meses mais maneiros. Gostaria de agradecer aqui por você fazer meus anos mais maneiros. Gostaria de agradecer aqui por você fazer minha vida mais maneira.
Gostaria de agradecer aqui, você. Obrigada.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Tão rápido

Esses dias passam tão rápido e ainda bem. Ainda bem porque esses são os dias que eu não te vejo. Gosto que passem voando e tragam em suas asas os dias que fico contigo. Ah, mas esses também tem esse costume bobo de passarem ligeiro, ligeiro. Aff, como o tempo passa, realmente rápido, quando a gente tá feliz, quando a gente se diverte, quando a gente tá a gente, assim, sabe? Mas tudo bem, eu adoro passar meu tempo contigo. Mesmo que ele passe rápido.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

sábado, 6 de dezembro de 2014

Ai

Louca de vontade de matar. De esmagar e apertar. De acabar com essa saudade que anda morando em mim. De te apertar. De te esmagar. De me acabar em ti.
Que saudade de ti.
Ai, que saudade de ti.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Vê-la

Vê-la dançar tirava qualquer um do sério. Qualquer um e qualquer uma. Vê-la dançar era oportunidade para poucos, para privilegiados. Vê-la dançar, era, com certeza, a oitava maravilha do mundo, e mesmo assim, ela dançava pra mim. Toda a noite.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Leve

Hoje me sinto leve, livre e solta. Feliz. Com dever cumprido e comprido. 
Agora é colher os frutos. 
Agora é ser eu mesma novamente.
Agora. 
Agora é ser. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Inteira

Este peso nos ombros vai sair. Vai voar. Tudo que vai restar será luz, será azul, será esperança e aí, tudo vai dar certo. Tudo vai voltar ao normal. Tudo vai voltar a ser tudo. Inteiro. E eu serei inteira de novo. Inteiramente eu. Inteiramente feliz.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Caramba

Aquela felicidade maluca a invadiu e explodiu em seu peito. Tudo parecia mais colorido, a vida parecia ter voltado a ocupar lugar no espírito dela. Tudo, extremamente, tudo parecia mais e melhor. Aquilo sim era alegria, felicidade e todas essas tretas maneiras que as pessoas costumam desejar umas as outras, especialmente em aniversários.
Aquilo era viver!
E, cara, ela tava amando aquilo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Espetáculo particular

Parecia que o Universo se mexia só para ela. Tão silencioso que era possível ouvi-lo girar. As estrelas dançavam só para ela naquela noite e um sorriso do tamanho do Universo nasceu feito lua no rosto dela. Então ela dormiu. Sonhou que seus dedos tocavam cada uma daquelas estrelas brilhantes. Sonhou com luz, com vida e com lua.
Acordou no céu.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Imaginação

Enquanto me deito sinto o cheiro de cravo. Mas dessa vez não tem flores. Por onde você anda? Cadê você, Vicente? Tu demora? Não demora, tá?
"Tá", Valentina pensou ouvir. Mas era só imaginação, como o cheiro de cravos que vinha da janela e passava pelo portão.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Estrelas, grata.

Só queria agradecer as estrelas por terem me desenhado você. Por terem me escrito até você. Obrigada.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

domingo, 16 de novembro de 2014

Tudo azul

Vai ficar tudo azul. Vai ficar tudo bem. Vai, no futuro. Vai no futuro próximo e logo e pra sempre.
Vai.
Tudo bem.
Amém.

sábado, 15 de novembro de 2014

É possível

Soltou os cabelos e me apaixonei mais ainda, se que é possível algo assim. Os olhos dela pareceram maiores, mais bonitos. Se é que isso é possível. Toda ela parecia mais incrível, se é possível.
E eu a amei mais ainda, se é possível algo assim.
Sim, era possível.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mistério

Valentina, deitada no sofá, sentiu um negócio engraçado no peito. Um aperto, uma cócega. De princípio não sacou o que era. Apertou a mão ali, massageou, coçou e nada de passar. "Que isso? Que droga", pensou. Não tinha jeito daquele sentimento passar. Pareciam dentinhos no peito, no coração, na alma. Que fazer? Que era aquilo? Que era aquela ardência morna sobre o coração?
Aí um estalo. Um cravo sobre a mesa.
Era saudade o aperto de Valentina. Pura saudade.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

sábado, 8 de novembro de 2014

Precisa-se

Precisa-se

Pratos para quebrar
Quebrar a raiva no meio e abrir o sorriso.
E mandar a agonia para os diabos.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Vida espetacular

Se conheceram naquela noite no Circo. No espetáculo de número 8, de noite estrelada e vento bom. Sorriram. Descobriram nomes, profissões, idades e signos. Se gostaram. Se casaram.
Hoje os filhos gêmeos são trapezistas do mesmo Circo. E os dois estão no céu estrelado da noite de vento bom. Vendo os filhos brilharem. Sendo felizes para sempre.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Só pra saber

Teus elogios fizeram a noite de Valentina. Só queria que soubesse disso. Só, por favor, da próxima vez deixa um cravo, só pra ela ter certeza. Só pra ela saber que foi você. Só pra ela saber quem agradecer. Só.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sempre

Tu me ergueu no ar e eu vi tudo lá de cima. Lá de onde tu costuma me ver e gargalhei. E te amei. E te amo. Mais um pouco agora. E sempre.

Impossibilidade

Vi um canarinho na grama e lembrei do teu cabelo dourado. Senti saudade e alegria ao mesmo tempo. Foi uma delícia. E esse recadinho escrito nesse papel meio amassado é pra te dizer isso. Te amo. Lembrei de ti. E te amo. E te amo até quando eu não lembro de ti. Como se fosse possível eu não lembrar. Como se fosse possível te esquecer.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Entrega

Mariana abriu a janela do quarto e deixou o vento gelado molhar seu rosto de porcelana. A chuva gelada queimava suas bochechas quentes e ela sorriu. Lembrou de Rodrigo. Das noites na estância. Dele alcançando pra ela um pala bem quente, dos dele. Dela tremendo um pouquinho além do frio que sentia só pra que ele se aproximasse mais. Mariana lembrou de tudo com um sorriso lindo no rosto. Um sorriso que só fez crescer quando ela lembrou que veria Rodrigo amanhã. E que se ela levasse em conta o adiantado da hora, já era amanhã.

domingo, 2 de novembro de 2014

Para Vicente

Eu tive que me segurar pra não desabar ali, na hora. Fingi que não doeu, Vicente. Fingi que não abriu meu peito, de novo. Sempre e de novo. Qual é a tua, Vicente? O que eu te fiz? Eu mereço essa dor no peito? Eu mereço tu me partir no meio sempre que eu me aproximo? Qual é a tua, Vicente? Se é castigo, para, eu já aprendi a lição. Qual é a tua, Vicente? Pela amor de Deus! Qual é a tua?
Sabe a maior merda, Vicente? Eu te amo, seu idiota. Eu sou uma idiota. E não importa, vai doer. Sempre dói, Vicente.
Mas não importa.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Sobre coisas legais

Edgar chegou em casa e encontrou Anna no sofá, lendo em silêncio. Os olhos cinza-chuva estavam concentrados em alguma parte de uma história que tinha levado Anna pra bem longe dali, para bem longe de Edgar.
- Ei, Anna.
Ela piscou, as nuvens em seus olhos miraram Edgar.
-Ei, amor.
Edgar sorriu. Era raro Anna chamá-lo por outra coisa que não seu nome. Muito menos por "amor". Não que Edgar não soubesse que ela o ama, mas ela falar, assim, sempre era lindo.
-Que tá lendo?
-Um livro.
-Dã.
Ele se jogou no sofá, ao lado dela.
-É bom?
-É.
-Vai me emprestar?
-Vou.
-Legal.
-É.
-Eu te amo.
-Legal.
-É.
-Também te amo.
-Legal.
-É.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Ajuda

Ando caminhando entre a saudade e o medo. Eita corda bamba desgraçada. E eu preciso de ajuda. Só me tirem daqui, antes que eu caia e não saiba mais voltar. Não saiba mais levantar. Não saiba mais.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Acho

Me encantam essas noites maravilhosas, cheias de magia. Me encantam quando elas começam e terminam contigo. Tu me encantas. Acho que é isso.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Dançamos, gata

Dançamos até os pés pedirem misericórdia. Até eu ficar sem fôlego, até tu precisar tirar o salto alto. Dançamos até o amanhecer e, cara, se pudesse fazia tudo de novo com você, gata.
Tudinho.

domingo, 26 de outubro de 2014

Acessório

Se eu fechar os olhos sinto tua pele. Sinto teu cheiro. Teu cabelo. Te sinto inteira. Se eu fechar bem os olhos vejo a gente, juntos. E o melhor de tudo isso é que quando eu abro os olhos eu te vejo ali, deitada do meu lado, na minha cama. O melhor de tudo é você. O resto é acessório.

sábado, 25 de outubro de 2014

Assinatura

Tô com sono e te espero pra dormir comigo, com amor, Vicente.

E, novamente, um cravo em cima da mesa. Junto do bilhete, junto com a assinatura no papel. Para Valentina ter certeza que era seu Vicente que deixava o recado. Que era seu Vicente que estava com saudades.
Que o Vicente era dela, e ela dele.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Até breve

Toma aqui esse café e este golinho de paciência. No fim, tudo acaba bem, Valentina e a gente vai rir de tudo isso. Hoje não te trouxe um botão de cravo, só esse recado, essa xícara de café e a minha saudade.
Fica bem. Até breve, Vicente.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Para meu amor

Li uma carta que tu me deixou há um tempo. Li e chorei, meu amor. Chorei tanto que nem sei como cabia tanta lágrima dentro de mim. Agora elas estão por aí, no travesseiro, no queixo, no meu lençol. Agora minha saudade de ti e do tempo daquela carta quase me cortam o peito. Não o ferem de verdade, mas machucam. Eu tô com saudades, meu amor e espero que tu leias este bilhete com carinho. Eu tô com saudade, meu amor e espero que este texto lhe chegue logo.
Eu tô com saudade e e te amo.
Meu amor.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Leve

Mariana viu os copos de leite e lembrou de um tempo bom. Lembrou da estância. Lembrou de Rodrigo. E suspirou. Fundo. Pesado. Pegou o telefone.
-Alô, guri?
-Olá, Mariana.
E aí o peso sumiu.

sábado, 18 de outubro de 2014

Literalmente

Achei que eu estava sozinha, mas aí senti aquelas patinhas fofas. Mas aí ele veio vindo. Ronronando e me fazendo um bem danado. Então nós dois dormimos, abraçados, quentinhos. Em paz. Eu e meu companheiro. Eu e o meu gato. Literalmente.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Ganhando dias

Chegou em casa cansada, acabada. O rímel que tinha passado pela manhã já borrava suas pálpebras e ela parecia um panda que só precisava de um canto e um bambu. Apesar de tudo, um sorriso nasceu no rosto cansado de Valentina. Sobre a mesa da jovem um cravo, bem vermelho. Ela nem precisou ler o bilhete que acompanhava a flor, já sabia de quem era.
Vicente.

Lembrei de ti quando vi esse cravo, pequena.
Saudade.


Era isso. Só isso. Mas fez Valentina ganhar o dia. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Tempero

Com cheiro de tempero nas mãos sentiu saudades de um tempo que não viria mais. Da infância, da mãe cozinhando. Sentiu saudades, mas não doeu, sorriu. Agora era a vez dela. Ela que cozinharia para os filhos e esperava que eles sentissem a mesma alegria que ela, ao sentir o cheiro de tempero nas mãos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Firmeza

-Segura firme que uma semana passa rápido.
-...
-Joana? Que cê tá fazendo com o meu braço?
-Ué, não era pra segurar firme?

sábado, 11 de outubro de 2014

Proposta

Troca o sonho por realidade e vem. Vem pra mim. Vem pra sempre. Vem e fica. Vem. Não te prometo roupa lavada porque sou atrapalhada e as mancharia inteiras. Não te prometo comida porque cozinho pouco, mas cozinho com amor. Só te prometo amor. Muito amor. E paciência. E respeito. E risadas. E tudo de lindo que não envolva sabão em pó e muito tempero. Te me prometo, saca?
Espero que aceite a proposta.
Com carinho,
Valentina.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Escrever

Tenho vontade de dizer tudo que sinto aqui. Tenho vontade de escrever cada linha que me incomoda e desatar esses nós. Mas e se você ler? Não sei se quero que leia. É como quando eu queria te ver e não ser vista. Quero escrever, mas não sei se quero ser lida.
Quero escrever. Preciso escrever! E quem sabe um dia te fale tudo também.
Quem sabe...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Escolhas

Se me pedissem para escolher entre o inverno e você, eu não saberia o que fazer.
Talvez precisasse comprar regatas novas.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Saudades dele

Já sinto sua falta, pensou Valentina. Já sinto vontade de você. Uma vontade imensa, tamanha, gigantesca. Uma vontade que não cabe nela e só vai ser matada daqui há um ano. Saudade dele. Do inverno.
Aquele lindo!

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Sua

Por hoje eu só quero agradecer, Pedro. Obrigada, sinceramente, por tudo.
Sua Alice.

domingo, 5 de outubro de 2014

Não sei

Além de saudade não sei o que te dizer. Além de vontade não sei o que fazer. Não sei e só sei que quero que tu volte. Volte. Volta. Logo.
Por favor.

sábado, 4 de outubro de 2014

É

-Te amo!
-Te amo!
-E amanhã te vejo!
-Eu também te vejo.
-Que lindo!
- A gente se ver amanhã?
-Não.
-Não?
-A gente.
- A gente? A gente é lindo?
-É, a gente! Se amando, é lindo.
É.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pétalas

Colheu flores para ela e guardou. Colheu flores para ela e aguardou. Então, ela chegou. Leve como as pétalas de rosa que ele colheu. Linda como cada uma delas. Ele as entregou. Ela sorriu. Ele sorriu. Eles sorriram. E se amaram.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Apegados

Alice se pegou pensando em Pedro. Nos seus olhos, na sua boca, no seu jeito de sorrir. Alice se pegou sentindo saudades de Pedro. Do seu jeito de caminhar, falar e rir.
De repente batidas na porta. No peito. No coração. De repente uma porta aberta. Um sorriso aberto e Pedro ali. Pedro para Alice. E aí foi Pedro que pegou Alice. E Alice foi pega e deixou a saudade pra bem de lado. Pra bem depois.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Tão e tanto

Quando Edgar chegou em casa encontrou Anna esparramada no sofá. Dormia a moça, profundamente. Edgar sorriu. Gostava de Anna, tanto. E gostava de vê-la dormir, de saber que seus olhos cinzas de tempestade estavam tranquilos. O cabelo de fogo lambia o sofá, todo ele e deixava algumas mechas no rosto claro de Anna. Meu Deus! Como o sorriso de Edgar não cabia nele. Como seu amor por Anna não cabia nele.
Era tão grande que Anna deve tê-lo sentido. A jovem acordou e seus olhos de furacão miraram Edgar. Sorriram, seus olhos sorriram. E neles não cabiam o amor que ela sentia por Edgar. Não cabia nela o amor que tinha por Edgar. E ele deve ter sentido isso. O jovem sorriu, seus olhos sorriram e ele correu para sua Anna. E os dois, os dois sentiram isso.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Vontade

Minha cabeça dói, meus braços tremem e eu tenho vontade de chorar. Ou de dormir. Dormir muito. Dormir até sentir falta de abrir os olhos. E então acordar e começar tudo de novo. Tudo melhor.
E ser feliz. E ser livre.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Não

Te vi passando lá da minha janela. Te vi passando com um buquê de flores e um violão. Sorri quando te vi passando. E aí tu passou. E não me viu. Passou e foi embora com tuas flores e tuas canções.
E não me viu.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Na cama

Entrei no quarto e você já estava lá, esparramado na minha cama. Deitado meio de lado, meio de barriga pra cima. Todo charme. Não resisti e me joguei contigo. Bem do teu lado. Ficamos assim, um bom tempo. Tu deitado. Eu deitada. Tu ouvindo minha respiração e eu...
Te ouvindo ronronar.

domingo, 21 de setembro de 2014

Sua Mariana

Ouvindo o minuano Rodrigo sentiu saudades de Mariana. Por onde será que andava a guria? Tava com frio? Ela havia esquecido o pala na estância. Rodrigo esperava que ela tivesse outros na cidade. Deveria ter. Era precavida a Mariana. Por isso Rodrigo achava que ela tinha deixado o pala ali de propósito. Pra deixar o cheiro dela com ele. Pra deixar a imagem dela com ele.
Como se Rodrigo precisasse disso pra lembrar de Mariana. Como se Rodrigo precisasse disso pra sentir Mariana. Como se Rodrigo precisasse disso para amar, muito, a sua Mariana.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Agradecimento

Aproveito o espaço curto de tempo para te agradecer. Espero que esse bilhete te chegue inteiro e com meu pedido de agradecimento. Agradeço por tu existir, minha pequena. É isso, obrigada por ser e estar, por viver. E por me deixar viver ao teu lado.
Obrigado.
E ah! Já que me sobra espaço neste bilhete digo mais uma coisinha. Que te amo.
Era isso.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Companhia

Valentina acordou com gosto de sono pesado na boca. Os lábios meio amargos. Abriu os olhos e procurou alguém. Ninguém? Os olhos voltaram a pesar, pediam para dormir de novo quando
-Miau?
-Gordo!
-Miau!
-Gooooooordo!
Pronto. Agora Valentina não estava mais sozinha e o gosto de sono amargo estava bem acompanhado e bem mais doce.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pedido

Ô, Pedro, tu ainda demoras? Porque eu não tô aguentando mais. Meu peito tá com a sensação de ser grande e miúdo demais de não caber em mim de precisar mais e de ser tão raso. Dói, Pedro. E a distância de ti não me ajuda. Tu ainda demora, Pedro? Muito? Pouco? Ainda?
Tô com saudade, Pedro. E ter saudade cansa, despedaça. Só não demora, Pedro. Tu ainda demora? Muito?
Só não demora, Pedro.
Por favor.
Não demora.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Feitio

Dos teus elogios que me adoçam a alma. Dos teus sorrisos que me iluminam o peito. De ti. Do teu amor. Sou tua. Sou toda tua e dessas coisas sempre terei lembrança porque fui feita assim. De histórias, de memórias. Feita para não esquecer.
Feita pra você.

domingo, 14 de setembro de 2014

Melhorou

Toda aquela chuva pingando no teto e Valentina jogada no sofá. Não tinha forças para mais nada a pobre. Só para sentir sono, preguiça e saudade. Então, junto com um lampejo de um relâmpago que cortou o céu, Valentina lembrou que a semana começaria bem. Viria com quem é sempre bom ver. Viria para trazer paz. Então ela sorriu, sem nem sentir os músculos do rosto se moverem. Sorriu de pura alegria e sinceridade. A chuva lá fora continuou, mas Valentina já era outra. Já estava bem melhor.

sábado, 13 de setembro de 2014

Você

Nenhum cansaço me dói quando vejo você. Não há joelho que reclame. Perna que machuque. Tudo fica bem quando vejo você.
Você, seu bigode, seu rabo e suas quatro patinhas de felino.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Vem

Para aliviar essa rotina eu preciso de você e de café. Você, café e cafuné. Vem e me acalma, vem e me tira dessa rotina que anda me cansando. Anda e não sai do lugar. Vem e me tira daqui. Vem e me leva com você. Vem! E depois a gente decide pra onde vai.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Chuva

Toda  a chuva lavou a saudade dela. Todos aqueles sorrisos e carinhos aliviarem-lhe o peito e trouxeram paz. Todo aquele sentimento cresceu e a saudade morreu.
De manhã a saudade volta, pra sumir de novo, pra fazer crescer aquele sentimento. Aquele amor que não morre, só nasce e floresce. Com chuva ou sem.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tempo

Me falta tempo, mas não me falta o que fazer, o que sentir. Tem muita saudade aqui. Tem muita vontade aqui. E pouco tempo. Tempo é mais que dinheiro. Tempo vale mais que dinheiro.
Então, te segura aí. Te acalma aí. Te ajeita aí, porque eu tenho uma história pra contar. Uma vida pra levar e não quero só de saudades escrever estas linhas, meu amor.
Que nelas tenha espaço para nossas aventuras. Que logo teremos tempo de vivê-las.

domingo, 7 de setembro de 2014

Retorno

Viajar é bom. Voltar para casa é uma delícia. Largar as malas e agarrar as pessoas. Sentar no teu sofá, dormir na tua cama. Sonhar e acordar do lado do teu sonho. Viajar é ótimo. Viajar com gente que te apoia e se importa contigo é uma maravilha.
Mas voltar pra casa, ah, voltar pra casa é tipo aquele cartão de crédito, não tem preço. 

sábado, 30 de agosto de 2014

Desejo

Só quero que essa chuva que veio de surpresa traga você pra mim e lave toda essa saudade que me suja o peito. Só isso.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Deixa

-Ai céus!
-Que foi?
-Que dor no peito!
-Oh. Quer ir até o médico de plantão?
-Ele trata de saudade?
-Que eu saiba não.
-Então deixa pra lá.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

terça-feira, 26 de agosto de 2014

De repente

Esfriou de repente e de repente Rodrigo se pegou pensando em Mariana e em seus cabelos negros. De repente ele quis ver as bochechas dela rosadas de frio. De repente ele quis esquentar as mãos geladas dela. De repente ele quis ela. De repente ela apareceu. Mariana entrou e se aconchegou ao lado de Rodrigo. Perto da lareira. E assim os dois ficaram até amanhecer.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Bem

Pediu um café bem preto e bem quente. Achou necessário adoçá-lo bem e mexê-lo bem também. Por bem pegou um livro, aquele que sempre carrega na bolsa e começou a ler, bem onde havia parado. Bem rápido um sorriso surgiu em seus lábios vermelhos e aí...Tudo bem.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Mel

E o cheiro de mel vinha das flores e do cabelo de Mariana. A jovem tinha enfeitado suas madeichas escuras com as delicadas florzinhas e sorria radiante, andando pela casa, ajudando Dona Milena e fazendo o coração do pobre Rodrigo sair pela boca.
Foi uma tarde mais doce aquela. Não pelo cheiro do mel que invadiu a casa da estância. Mas por Mariana. Mariana e sua pele. Mariana e seus cabelos. Mariana e seu sorriso. Mariana e sua pureza. Mariana e sua alegria. Por Mariana. Mariana. E para Rodrigo, isso basta. Ela basta.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Passou

Passou o batom que eu gosto e passou por mim. Passou o batom que adoro, passou por mim e ficou. Passou o batom, mas não passou a vontade dela. E nunca vai passar.
Passou batom. Ficou o amor.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Conselho

Aquele aperto no peito se dissolveu em decisões e momentos de "Oh, e agora?" e agoras vieram e sempre virão, Valentina. Tu vai ter que aprender a lidar com isso. Mas relaxa, há de sempre ter mãos amigas e corações cheios de amor. Relaxa, Valentina. Tudo dará certo.
Relaxa, Valentina. Dissolve o aperto no peito em sorriso e relaxa.

domingo, 17 de agosto de 2014

Muitas

Essa mistura de ansiedade e alegria que me invade tem motivo. Amanhã é dia de te ver. Te sentir e ficar mais perto, bem perto de você. Amanhã é dia de sentir teu cheiro, tua respiração e ouvir tua voz no meu ouvido. Amanhã é meu dia de ser tua. Teu dia de ser meu. Como em tantos outros. Como em muitos que virão. Como em uma vida toda. Como em várias delas.
Ainda bem.

sábado, 16 de agosto de 2014

Doçura

Vó Paulina fez bolo. Fez bolo e adoçou a tarde dos netos. A semana dos filhos e a vida de quem a cerca. Vó Paulina sempre faz doce. Sempre é doce. E sempre adoça. Porque Vó Paulina é vó e desse lance de adoçar vidas elas manjam muito bem.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Tudo

Todos os gatos juntos. Todos os amores juntos. Todo o calor para espantar o frio. Tudo de bom. Tudo junto. Tudo em paz.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Enquanto isso

Vou matando minha sede enquanto não posso matar minha saudade.
Vou acabando com a minha fome enquanto não posso acabar com a minha vontade de ti. Que não passa e nem quero que passe.
Vou te amando enquanto posso. Enquanto vivo. Enquanto e sempre. E pra sempre.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Carinho de neta

-Vó, posso fazer carinho no gato?
Paulina olhou para a neta.
-Se ele permitir, por mim tudo bem.
-Gato, posso fazer carinho em você e depois na Vó Paulina?
O gato ronronou. A neta tomou como um sim e todos receberam carinho.
O gato. A neta e a Vó.

sábado, 9 de agosto de 2014

Da vontade de suspirar

Tô cansada e com saudade. E mais ainda, cansada de sentir saudade.
Mas amanhã tudo passa e fica bem.
E fica. E bem.
E com você. E comigo. E com nós. E bem.
Tudo bem.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Outros ventos

-Cuidado com o Minuano
-Com o quê, vó Paulina?
-O Minuano.
-Ué, quem é esse, vó?
Batidinhas no ombro.
-Deixa pra lá.
-Tá. Mas eu me cuido igual, tá?
-Tá.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Que bicho é esse?

E a saudade é esse bichinho chato que carcome os cantinhos da gente. Aperta e solta, quando bem entende.
Saudade é o bichinho chato que Anna vai matar lentamente quando seu Pedro voltar.
Pedro volta e a saudade vai. Pedro fica e o bichinho chato da saudade some.
Pedro fica. Anna fica. Os dois ficam. Juntos. E a saudade?
Sei lá, que bicho é esse?

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Felinice

E a gata malhada subiu no meu colo. Sem pedir licença, sem pedir favor. Só desejando um afago, um carinho sincero. E eu aproveitei e acariciei seu pelo macio. Como era leve a gatinha. Como é elegante a leveza dos felinos. Como é elegante este amor sincero que eles dedicam aos seus escolhidos.
Depois a bichana desceu do meu colo e foi fazer as felinices dela. E eu segui meu caminho, com um sorriso no rosto e acreditando um pouquinho mais na humanidade. Apesar de todo aquele amor ter vindo de um serzinho de quatro patas.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Aquecidos

Enquanto chovia lá fora o fogo da lareira servia para esquentar casa, família e coração. O coração por extensão, já que a família e seus amores é que fazem seu coração bater e sua casa e seu lar é onde e com quem seu coração bate.
Na família cabe os de sangue e os de alma. Os que vieram e os que ela escolheu. Os humanos e os felpudos, de nariz molhado e quatro patas.
Amores. Todos eles quentinhos perto da lareira. Enquanto a chuva lá fora cai. E dentro dela, estão todos aquecidos, em seu coração.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Amizade

Amizade boa resiste a tempo e a distância. Gosta de lembrança e é facilmente alimentada por momentos pequenos e lindos junto dos portadores do sentimento.
É fácil matar saudade de amizade boa. É difícil de ter uma amizade boa. Que bom que tenho sua amizade boa.
E ainda bem que é fácil matar a saudade que insiste em se instalar na nossa amizade. Que é boa, que é de infância que nos faz sempre bem.
Obrigada.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Simplicidade

Chuva. Chiar de relógios. De chaleiras. Chá. Silêncio. Ela e um livro.
Tudo bem. Tudo em paz.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Sol

Quando a chuva for embora, eu chego. Chego pra ti ver. Chego pra ficar perto de ti e te aquecer. Mas quem é meu Sol é tu. Quem me ilumina é tu. E logo, logo vou poder sentir teu calor bem de perto, meu amor. Vou poder te sentir. Tua luz, tua alegria, tua vibração e teu amor.
Até breve, meu querido. Guarda o guarda-chuva e me aguarda.
Serei aquela moça sorrindo, logo ali. Te esperando.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Boa

Coisa boa isso da saudade. De dar uma abraço e ela desmanchar.
Coisa boa desmanchar saudade no teu abraço.
Coisa boa você.
Coisa boa nós.
Coisas boas.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Acordo

-Saudade.
-Saudade também.
-Amanhã a gente resolve.
-Tá.
-Ok.
Combinado, disseram juntos. E juntos viveram.
Toda a vida.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Presente

-Te trouxe flores.
-Te trouxe amor.
-Ei, eu te trouxe amor também.
-Não vale repetir presente.
-Azar o teu.
-Azar nada, ganhei flores e o teu amor.
-Mas tu disse que não vale repetir presente.
-Nah, bobagem. Mudei de ideia. Presentes desses não se nega.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Calmaria

Enquanto a chuva castigava as janelas ela lia enrolada nas cobertas. O gato encostara a cabeça nos pés cobertos de coberta e meia. E ela estava toda coberta. De calmaria, harmonia e mansidão.
E a chuva lá fora dava o tom e a trilha da paz.
Dela e do mundo inteiro.

terça-feira, 22 de julho de 2014

À prova d'água

Ela leu no rótulo "à prova d'água". Sorriu sem forças. Pelo menos assim não veriam o caminho que as lágrimas queriam deixar em suas bochechas.
Guardou o rímel. Fechou a bolsa. Deitou na cama. Fechou os olhos. Dormiu.
Não lembrou do que sonhou.
Ninguém se importou.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Proposta

Ontem era uma rosa só. Hoje é um buquê. Amanhã te planto um canteiro. Um jardim inteiro de rosas. Na frente da nossa casa. De portas azuis.
Que tal?
Aceita?
Aguardo retorno. Enquanto isso, que tal uma xícara de café?

domingo, 20 de julho de 2014

Sorriso de alma

Quando Valentina chegou em casa um pequeno bilhete estava a sua espera. Amarelo e com uma rosa ao seu lado. Nele, escrito em preto e com letra pequena e apressada

Eu te amo, obrigada por tudo. 
Até.

Valentina guardou o bilhete no bolso esquerdo. Perto do peito e do coração.
De resto, pode-se dizer que foi dormir sorrindo. De sorriso que preenche tudo. Até a alma.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Até sempre

Dormi sem você e acordei contigo. Coisa boa sonhar com você. Coisa boa saber que depois do sonho vem a realidade e que logo vou te ver.
Logo.
Até logo.
Sempre.
Até sempre.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Conversa

-Boa noite.
-Boa noite.
-Sonha comigo.
-Prefiro acordar contigo.
-Ah, pode ser também.
-Pelos próximos anos?
-Pode ser pelas próximas décadas.
-Então casa comigo?
-Caso.
-Legal.
-Legal.
Casaram.Viveram.Felizes.Pra sempre.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Melhor

E um pouco antes de dormir lembro do teu beijo de café. Do teu abraço. De ti. E sorrio. Só tua lembrança me enche o peito de alegria e quentura. Tu é meu café. Tu é meu bem.
Tu é tu. E isso é melhor do que qualquer coisa. Até do que o melhor café.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Velhos hábitos

Tudo tinha cheiro de novo e recém pintado, comprado, lavado. Tudo recente e com o Sol entrando de cantinho para iluminar e trazer boas novas. Por todos os lados, eles. Os livros. Lindos. Pedindo para serem levados para casa. Cada um contando uma história diferente. Falando de um mundo novo ou velho. Chamando pelos leitores. Chamando por quem ali entrasse.
Tudo ali, naquela livraria era novo, tudo era recente, para alimentar uma paixão antiga. A da leitura. Para passar adiante uma arte, a literatura. E um hábito. Viajar pelo mundo das letras. Que para muitos é mais que uma viagem, é uma forma de viver. E como a própria literatura. Uma arte.

domingo, 13 de julho de 2014

Em breve

Segurando um copo de leite nas mãos, Rodrigo esperava Mariana. Mas não um copo de leite qualquer. Não um de tomar. Mas um de dar de presente para quem se gosta. Retirado dos canteiros de flores da Dona Milena, mãe de Rodrigo. Retirado com amor e carinho. Colido com nervosismo e ansiedade. Com saudade. Mas lá vinha Mariana. Ela logo chegaria. E logo teria em suas mãos o copo de leite florido. E o coração de Rodrigo também.

sábado, 12 de julho de 2014

Prrr

Chegou em casa e largou bolsa em um canto do sofá. Chave na mesa de centro e o corpo cansado no sofá florido. Quando quase adormecia sentiu uns pesinhos percorrerem seu corpo, suas pernas e depois a barriga. E aí um som engraçado de motorzinho começou baixo e foi crescendo. Prrrrrrrrr!, fazia o gatinho para receber a dona.
-Olá, gracinha.
-Mio.
-Tudo certo por aqui?
-Miiio. Miiio. Miiiiiiiiiau!
-Ora, também senti tua falta.
E aí ela apertou o gato até ele gemer baixinho. Ela o soltou, assustada. Mas ele logo se aconchegou novamente na barriga da dona e começou a ronronar como se não houvesse amanhã.
E assim os dois ficaram. Dona e gato, matando a saudade um do outro. Humana e animal. Dois amigos. Dois companheiros. Para vida toda. Ou para sete delas.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Preparativos

Cheirinho de roupa limpa invadia a estância. Adentrava a casa e acertava em cheio Rodrigo. Em cheio porque aquele cheiro de lençóis limpos significava uma coisa. Visita. E naquelas épocas de frio e férias de inverno significava uma visita em especial. Mariana.
Mariana vinha e o cheiro de roupa de cama limpa significava que ela logo estaria ali com Rodrigo. A mãe do rapaz, Milena, só colocava os lençóis para lavar e secar pouco antes da moça chegar. E ela chegaria naquela tarde. E enquanto isso Rodrigo ia para o quarto de visitas, sentir cheiro de pitanga e amaciante. E esperar Mariana. Porque ela chegaria. Hoje ainda. E o coração de Rodrigo, se continuasse dentro do peito, saltaria ao vê-la. Ao ver a sua Mariana.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Boa notícia

Silêncio na estância. Na sala, só o crepitar do fogo e a respiração de Rodrigo. Meia hora depois, dona Milena, mãe do rapaz, entra fazendo toc toc no chão de madeira.
-Boa noite, meu guri. Não fica muito tarde acordado. Depois te resfria, encaranga e aí já viu, eu que cuido, né?
Rodrigo riu para mãe.
-Pode deixar Dona Milena, me cuido e durmo cedo.
Então os olhos negros do rapaz voltaram-se para algo que chamou sua atenção. Naquela iluminação tênue da lareira um papel branco se destacava nas mãos meio calejadas do trabalho de Milena.
-Que isso, mãe?
Ela sorriu. Um sorriso de iluminar sala, cozinha, quarto e casa inteira.
-É uma carta, meu filho. Um bilhete, na verdade.
-Pra mim?
-Uhum.
-De quem? -Mariana - respondeu a mãe.
Rodrigo agarrou a carta com toda a vontade que lhe invadiu o peito. Quase com força. Mas ainda assim, delicado. Pois era de Mariana. E coisas vindas dela devem ser tratadas como ela. Com delicadeza.
Sorridente, a mãe deixou o recinto. Deixando o filho apreciar o cheiro e o sabor das palavras da amada.Em poucas linhas, Mariana alegrou o resto da noite de Rodrigo e quase o deixou sem dormir, de pura ansiedade. Sucinta, ela disse.

Ô Rodrigo, prepara as berga e o mate que eu tô chegando amanhã. Férias de inverno, né? Achou que eu tinha te esquecido, guri? Até breve. Cuida com o minuano.
Da tua, sempre tua
Mariana. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sem deixar de ser

Se Valentina tivesse um diário, um desejo que há muito ela desistiu de tentar realizar, ele estaria repleto de detalhes e fofuras. Valentina gosta de detalhes e de fofuras. Os escreveria todos ali. Para ficarem para sempre registrados. Porque além de gostar de detalhes e de fofuras, Valentina também gosta de lembrar. O problema de Valentina, além da boa memória, que ás vezes pode ser um problema, é que ela não gosta muito de falar sobre si. Esta, na verdade, é a causa do fracasso do pobre diário que sempre nascia para desfalecer nas próximas páginas.
Valentina gosta de detalhes, de fofuras e de recordações. Valentina tem boa memória e na maioria do tempo ama isso. Valentina gosta de ser Valentina, aliás. Só não gosta de falar desse "ser" Valentina. Melhor, ela não sabe falar de como é ser Valentina.
Então, ela vai e cria um outro nome. Vira Lúcia, Andrea, Mariana. Se vira e desvira. Daí ela conta, fala, sabe o que dizer. Ás vezes mente, ah, vá lá, é ficção, afinal. Nem sempre é ela. Mas o bom é que quando é, nem todo mundo percebe. E assim ela se abre, se alastra. Pra não morrer sufocada nela mesma.
Para poder ser Lúcia, Andrea, Mariana, sem deixar de ser ela mesma. Sem deixar de ser Valentina.

domingo, 6 de julho de 2014

Nuvens

Todo o aguaceiro da semana fez Rodrigo sentir saudade de Mariana. Do cabelo, do sorriso, de toda a Mariana. De toda aquela moça.
"Eu venho logo" prometeu ela para Rodrigo. E desde então essas palavras são a luz do Sol do rapaz. Para assim, fazer escapar, do céu de Rodrigo, as nuvens carregas de saudade. De saudade de Mariana.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Porque sim e ponto

Café, pinhão, chocolate, fogo na lareira, gatinho ronronante, tricô, vinho, cobertor. Você. Não há outro motivo para estas palavras estarem juntas a não ser listar as coisas que me agradam no inverno. A melhor de todas deixei sozinha. Entre pontos. Porque é especial. Porque é a que mais me fascina. Agrada. Ilumina. Porque é você. E porque é pra todas as estações. Porque é de inverno, verão, primavera e outono. Porque é pra vida. Porque é e sempre será você.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Ode à bergamota

Comeu as bergamotas escondido. Saboreou uma, duas, três. Deu umas bicadas em mais algumas. Preferia as debaixo, mas, se quisesse, alcançava as bergamotas de cima com facilidade. Adorava bergamota. Adorava fruta. Só tinha esse problema de não pedir permissão aos donos do pomar para provas as delícias.
Ia sempre escondido. Sempre na manha. Sempre sem fazer barulho. E sempre conseguia as melhores frutas, as mais saborosas. E depois, no fim do lanche, voava pra longe dali. Pra outro pomar. Pra outra cidade.
Voava tranquilo o passarinho. Com seu pequeno estômago cheinho.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Tratamento

E pra curar essa gripe, teu abraço já basta. Pra me fazer sentir melhor tua companhia já é o suficiente. Tu é o remédio pra minha gripe, falta de vontade, é remédio pra minha vida.
Tu é remédio e solução. Meu remédio e minha solução.
Sem precisar de receita, sem contra indicação, sem precisar ler letra miúda de bula. Sem moderação. Com uso 24h. Sem preocupação. Com gripe ou sem. Com amor, com certeza. Sempre e sem indicação para fim de tratamento. Com sintomas persistentes de afeto, amor e carinho. E fim. E nenhum médico vai dizer que é ruim. Pro pâncreas ou pro rim.
E que fique sempre assim.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Nas próximas

Tô com saudade e cansaço. Cansaço desse trabalho maluco e saudade de ti. Como já passa da meia noite o que eu posso fazer, por enquanto, é reclamar de saudade e ajeitar um canto pra dormir sozinha. Matar meu cansaço sem matar saudade e sem enterrar meu rosto no teu travesseiro. No teu peito.
Durmo essa noite pensando em ti. Pra acordar com um sorriso no rosto.
Na próxima durmo perto de ti. E já fecho os olhos sorrindo. Pra acordar, no outro dia e pra sempre, radiante.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Agradecimentos

Ninguém é uma ilha e eu sinto saudade de você.
Ninguém é uma ilha e tu, Pedro, é a minha ponte. Minha chave. Minha fonte.
Obrigada Pedro por não me deixar ser uma ilha. Por ser meu castelo. Minha vida. Meu príncipe.
Obrigada, Pedro, por tudo. Por enquanto. Aos poucos eu te agradeço pontualmente, por cada coisa especificamente.
Pessoalmente.
Obrigada, Pedro.
Eu te amo, Pedro.
Boa noite.
Pedro.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Amanhã

Hoje te deixo meu boa noite virtual. De longe. De telefone. De mensagem de texto. Hoje deixo meus desejos de estar contigo bem por perto. Deixo tudo isso, mas deixo pra logo. Deixo pra amanhã.
Amanhã te dou meu boa noite. Amanhã te entrego meu abraço. Meu desejo de boa manhã. Bom dia. Boa vida.
Me entrego.
Por hoje é boa noite. O resto, o resto a gente vê amanhã.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Conjugando sorrisos

Tua risada era o melhor som daquela noite em que a chuva pingava na janela embaçada. Tua risada era a coisa que mais se ouvia naquela casa. Tua risada era e é a coisa que mais me faz rir no mundo.
Tua risada é o melhor som do mundo. Em qualquer lugar. Em qualquer dia. Tua risada é a coisa mais linda que se pode ouvir. Na tua casa, na minha, na nossa.
Tua risada, te fazer rir. Tu.
Eu.
Nós.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Do que era amargo

Anna foi pegar um café na cozinha para esquentar o coração e lhe fazer companhia. Edgar havia viajado há duas semanas e ficaria mais três dias fora de casa. Da casa que ficava meio vazia e sem sentido sem ele.
Anna vagava por ali fazendo os cabelos de fogo dançarem no cinza da saudade que pintava a sala, o quarto, a cama. Seus olhos de grafite analisavam cada detalhe, cada móvel, cada lembrança imóvel de Edgar. Suspirou de saudade e bebeu um gole bem quente do café amargo. Amargo e quente pra vê se adoça o coração.
-Mais amargo que isso só a saudade do Edgar- murmurou pra xícara de porcelana.
-Saudade de quem? - perguntou o causador da falta de sorrisos no rosto de Anna.
-Edgar!
-Eu!
-Ai, que saudade - ela disse se jogando nos braços dele.
Beijaram-se. Mataram a saudade um do outro. Bem devagar. Bem sem pressa. Agora Edgar estava em casa e o café não era mais sozinho. Não era mais amargo, por menos açúcar que tivesse.

sábado, 21 de junho de 2014

Sobre sonho e realidade

Depois de uma. Duas? Três? Taças de vinho Valentina começou a se sentir sonolenta. Largou o livro de lado e pediu licença para o autor e seus personagens, que poderiam muito bem ser seus velhos amigos, para se esticar no sofá. Tava friozinho e parecia que o fogo murmurava alguma dessas cantigas de ninar. Os olhos foram fechando, os músculos relaxando e a vontade de se entregar para os sonhos foi chegando, chegando...
E ficando.
No outro dia eram as brasas do fogo. O gosto de vinho tinto na boca, o livro que cansara de esperar e se jogara no chão e o resquício bom de um sonho. Um sonho que tivera vinho, beijo e abraço. Todos doces. Todos vindos do mesmo alguém.
Que de sonho tem muito. Mas graças a Deus é feito de realidade. E está sempre ali. Para quando Valentina precisar, em sonho, ou com os olhos bem abertos.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Lembrete

Querida Valentina,

Te vi passando hoje e senti falta de algo em você, algo que eu sempre vejo te acompanhando. Algo que tu vestes muito bem e que combina contigo. Sabe do que eu estou falando, não é? Nunca o deixe de lado, tá? Promete? Por mim?
Sorria, Valentina! Sempre que possível. E que seja possível sempre.

Da amiga,
Valentina.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Calor

Enquanto Milena se balançava na cadeira de sua bisavó, acomodada na varanda, Antônio saiu da casa resmungando.
-Tá frio, mulher. Pega teu xale- disse o marido oferecendo um pedaço de tecido cinza para a esposa.
-Grata – respondeu Milena e se embrulhou bem.
Antônio ficou por ali mais um naco de tempo. Observando a mulher que a vida lhe dera.
-Tu é linda, sabia?
-Depois de mais de vinte anos de casados?
-Mais linda até, minha querida.
-Grata – respondeu novamente Milena.
-Te amo, sabia? – perguntou Antônio.
-Depois de mais de vinte anos de casados? – perguntou Milena.
- Amo mais até, minha querida. Mais até.
-Grata – disse Milena – é recíproco.
E então os dois se abraçaram e Milena pode sentir o calor do xale.
Do casaco e do coração do seu marido. 
Do seu Antônio.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Ainda bem

Mariana não seria Mariana se não fosse os cabelos negros e longos. Se não fosse a pele clarinha, se não fosse os lábios vermelhos e carnudos. Mariana não seria Mariana se não gostasse tanto de bergamota, de andar a cavalo. Mariana não seria Mariana se não gostasse tanto da estância, de tomar Sol no Inverno, de ler na frente da lareira, de fazer bolo de milho. Mariana não seria Mariana se não fosse toda a delicadeza que tem nos gestos, o sorriso largo que tem no rosto e a inteligência que se vê de longe no brilho do olhar.
Mas ainda bem que Mariana é Mariana. Com todas as nuances e características que tem. Ainda bem que Mariana é Mariana e que Rodrigo a encontrou em tempo de poder conquistar seu coração.
Porque Mariana não seria Mariana se não tivesse aquele coração tão lindo e generoso.
Um coração tão grande e tão de Mariana que abrigou Rodrigo dentro dele.
Ah, ainda bem que Mariana é Mariana.
E ainda bem que Rodrigo a encontrou em tempo. Em tempo dela o aceitar.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Com

Cobertas, ameaça de chuva e o tempo esfriando lá fora. Dentro de casa o calor humano e o gatinho miando. A televisão ligada e ela meio dormindo, meio acordada. Sonhando com o que a tela mostra pra quem ali passar, ou não. Sonha com o gatinho miando para entrar embaixo das cobertas. Sonha com o filme de ação, sonha em baixar o volume da tv, sonha em dormir um pouquinho mais. Sonha em dormir acompanhada. Sonha com ele.
Sonha com você.
E, ás vezes, quando tem sorte, acorda acompanhada. Com um sorriso.
Com você.


sexta-feira, 6 de junho de 2014

Pequenas ou grandes dúvidas

E se tivesse levado guarda-chuva? E se ela não tivesse pego aquele livro? E se não tivesse dado tempo de ir para biblioteca? E se tivesse acordado mais tarde? Ou mais cedo? Se não tivesse pego aquele ônibus? Para aquela cidade? Aquele dia? Se não tivesse ido para o setor financeiro? E se não tivesse descoberto que delícia é um chocolate quente?
E se soubéssemos quais pequenas decisões, na verdade, não gigantescas?
E se no fim das contas todas forem?
E se?

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Sonho amanhecido

-Traz as berga e vem pro Sol lagartear comigo- chamou Rodrigo.
Então Mariana foi. De vestido branco e de casaco de lã preto. De botas. Sorrindo. Sorrindo e de trança no cabelo.
Pegou uma bergamota da mão de Rodrigo e sorriu. Ah, o sorriso de Mariana!
Ah, o sonho de Rodrigo...
O rapaz acordou. Chovia. Não tinha Sol. Nem bergamota. Nem Mariana.
Não hoje. Mas quem sabe amanhã.
É, amanhã.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Só o começo

Junho veio friolento. Veio com fogo na lareira e com gatinho no sofá. Enrolado na manta. E na manta a moça, com o livro e o chocolate meio amargo. E o chimarrão que havia terminado e o café que mal tinha sido passado e já havia acabado.
E o crepitar do fogo, no silêncio. E o sono. E o adormecer aconchegada no sofá. E acordar no outro dia. Com uma dorzinha no ombro. Mas uma baita alegria no coração. Porque o frio estava apenas começando. O mês apenas começando.
E seu coração cheio de calor. E cada vez mais. A cada mês que vem.
E a cada mês que vai.

sábado, 31 de maio de 2014

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Alto e forte

E mais alto que meus pensamentos, a chuva no telhado. E mais forte que as batidas do meu coração, a saudade.
E mais alto e mais forte. Teu carinho. Teu nome.
Teu amor.
Meu amor.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Céu

Vi o céu azul, a calma, a brisa e dormi. Acordei com o céu que era azul transformado em negro. Negro com aqueles pontinhos de luz pipocando aqui e ali. Me levantei tremendo. Busquei um casaco de lã e uma coberta.
Voltei para a sacada, para debaixo do céu estrelado. Naquela noite eu dormiria ali. O céu estava muito bonito para ser dispensado. A noite muito bonita para ser deixada para trás.
Fiz das estrelas meu teto e da brisa minha casa. Dormi e sonhei que voava.
Acordei e me senti liberta.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Sete

Deixou o gatinho se enrolar nos seus pés e ronronar. O gatinho serviu de segunda meia, de segundo cobertor, de aquecedor de pés.
O gatinho serviu de aquecedor de coração.
O gatinhou ronronou a noite inteira.
Aqueceu-a a noite inteira.
O gatinho lhe protegeu do frio e da solidão a noite inteira.
Pela noite inteira. Pela vida inteira. Por sete vidas inteiras.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Fumaça

E da minha boca saia aquela fumaça do inverno. Aquela que a gente finge ser de cigarro quando é criança. Da minha boca saia essa fumaça que eu acho o charme do inverno. 
Da minha boca também sai outra coisa. Todo dia. Que eu não canso de dizer.
Da minha boca sai "Eu te amo". Sempre. Independente da fumaça. Da estação. Ou de onde está você.

domingo, 25 de maio de 2014

Nós e o inverno

E o frio chegava de mansinho. E a chuva no telhado sussurava desejos de bons sonhos. E a gente abraçados, bem juntinhos. E a paz do inverno. E os cobertores. E nós.
Nós nos cobertores. Nós e os cobertores.
Nós.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Lembrança

Rodrigo estava enrolado nas mantas que sua mãe, Milena, havia tricotado no inverno passado. O fogo na lareira crepitava empolgado com o frio que precisava combater. Pelego, o cusco da família, tava enrolado ao pé das chamas. Se fosse um gato, pensou Rodrigo, estaria ronronado.
Tudo tinha um silêncio e uma paz que chegava a se ouvir pensamento e respiração. De repente um tilintar. Um som tecnológico que rompeu a calmaria da tardinha na estância. Rodrigo tirou o celular do bolso. Segurou em frente aos olhos e sorriu. Era Mariana. Uma mensagem da moça de cabelos escuros e de sorriso doce.

Tava comendo bergamota e lembrei de ti. De ti e da estância. Como tá o Pelego? Manda beijo pra tia Milena e pro seu Antônio. Tô com saudades. Cuida com o minuano.

Mariana.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Do que nasce pra morrer

Movido a saudade e vontade de ti pego essa caneta e escrevo essas linhas. Sedento de te ver mais um pouquinho, de te ter mais um pouquinho coloco essa folha de papel em cima da minha escrivaninha. Eu te amo, sabia? E essas horas de distancia me fascinam e me furam o peito. A vontade de te querer perto é doce e salgada. É agridoce. Saudade tem esse amargo que adocica, esse doce que azeda.
Tenho saudades, Valentina. E tenho também essa sensação deliciosa de saber que saudade é algo que mato logo quando te vejo. Pra criar de novo, toda vez que te digo "até logo". E toda vez que te digo "até logo" a saudade vem, mas logo passa.
Nasce pra logo morrer. Pra nascer de novo e pra eu poder matar.
Matar essa saudade no teu abraço, Valentina.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Tão boa quanto

Dormiu sozinha e sonhou com ele. Com seu sorriso. Com a boca. A mão. A pele. Dormiu sozinha e acordou acompanhada daquela lembrança boa e doce. Tão doce como um sonho.
Tão boa quanto a realidade.

domingo, 18 de maio de 2014

Juntos

Lembro da primeira vez que segurei tua mão. Do meu coração quase saindo pra fora do peito. Fiquei com medo que tu pudesse ouvi-lo bater. Tu ouviu? Nunca cheguei a te perguntar isso. Ouviu?
Mas não tem importância, porque agora tu sempre pode ouvir meu coração bater, bem de pertinho. Pode sentir minha respiração. Bem juntinho. Sempre que quiser, sem precisar pedir. Só desejar.
E eu já segurei tua mão vezes sem conta depois daquele dia. Andei do teu lado em inúmeros dias desde então. Ainda bem.
E que estes dias continuem. Assim.
Amém.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Alma lavada

Ela não queria ter saído na chuva. Saiu rápida e chateada porque não queria saber de chuva.
Quando os pingos gelados começaram a cair sobre a pele e molhar os cachos da menina, ela riu. Sorriu. E depois gargalhou com a chuva que lhe fazia cócegas por todo o corpo.
Sorrindo, Valentina voltou para casa. De roupa, bota e cabelo molhados. De alma lavada.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Coberta

Alice acordou por volta das 5h da manhã. Esfregou os olhos e tirou a coberta vermelha que lhe cobria as pernas. Coberta vermelha? Mas ela pegara no sono no sofá, durante o Jô Soares. Quem a cobrira? A resposta estava no chão, perto das pantufas da moça. Um bilhete. Meio amassado. Amarelo. Dizia:

Tu tava uma gracinha dormindo, não quis te chamar. Te tapei de coberta vermelha e de uns beijos e carinhos enquanto tu cochilava. Quando acordar corre aqui pra cama. 
Esperando que tu acorde logo, 
Pedro.

Alice correu logo para a cama, como lhe foi pedido. O resto. Não cabe a mim contar.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Decisão

Café. O gato e a coberta. E o frio. E puxar meias. E pegar outra coberta. E dormir. E sonhar. E acordar e o dia fresquinho. E a vontade de ficar na cama. Pensar bem. Não ficar na cama. Levantar.
E o dia. Todo ele. Valer a pena.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Recado

Querida Anna,
Deixei  pudim na geladeira, pão na mesa, café na térmica e saudade no coração.
Até semana que vem.
Te amo,
Edgar.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Tempo e espera

Como o tempo é estranho para quem espera. É tão agilmente devagar. Viscoso e demorado. Mas parece também que voa, escorre e só te faz pensar que o perde. Ele, o tempo. E a companhia de quem tu espera.
Esperar é cravar unhas no peito, no estômago e no relógio. É ver gente no rosto de outra gente. É sofrer antes da hora. Até que chegue a hora. E, chegue, junto de ti, finalmente, o motivo da espera.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Vem, Mariana

Já teve pinhão aqui na estância, Mariana, agora só falta você. O pai fez uns na panela de pressão enquanto a mãe cevava o chima. Tu sabe, né? O pinhão do pai é bem melhor que o da mãe, mas Deuzulivre tu dizer isso pra ela. Deixa quieto, Mariana.
Tu sabe também, Mariana, que essa carta aqui não é pra contar nem de mate nem de pinhão. É pra contar de saudade. Pra contar que eu tô contando os dias, Mariana. Quando tu vem de novo? Aproveita o frio. Aproveita as cobertas que são mais grossas por aqui. Aproveita que eu tô aqui, Mariana. Vem que eu te esquento com meu abraço.
Vem, Mariana. Não tem carinho que não derreta saudade e aqueça coração.
Vem, Mariana. Se não vem por mim, vem pelo mate, vem pelo pinhão. Mas, vem Mariana. Eu te espero na varanda. Pronto pra te receber. Com a cuia na mão. E a saudade no peito.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Para frente

João não respondia aos "obrigada" da Moça não por falta de educação, respeito ou por desprezo. Ele não a respondia porque ela lhe lembrava muito alguém que ele não queria lembrar. Ela era muito parecia com quem não devia parecer. Com Joana. Provavelmente as duas nem se conheciam, nunca se viram. Mas ele já vira as duas. Já amara muito Joana e a Outra, sem saber de nada, era uma lembrança da primeira.
Será que eram primas? Não, ele conhecera a famíla toda de Joana. Dizem que temos cinco pessoas extremamente parecidas com a gente, espalhadas por aí. Bom, isso explicaria a situação.
João sente saudades de Joana. Por isso não consegue ser simpático com a Outra Garota. Uma lhe sangrou o coração. A Outra, João encontrava quase todo dia, na hora do almoço. A Guria era simpática no fim das contas. Talvez ele devesse cumprimentá-la. A pobre não tinha culpa de lembrar tanto a Joana.
É, ele ia cumprimentá-la amanhã. Quem sabe assim ele não dava fim naquele aperto no peito. Quem sabe assim ele não começava uma amizade nova. Quem sabe assim ele parasse de viver de passado e começasse, novamente, a olhar para o presente.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Como sempre

-Vamos ter uns três ou quatro, Pedro.
-Filhos? - perguntou ele surpreso.
-Não, cara. Gatos. Uns três ou quatro, gatos.
-Não sei... É muita responsabilidade, Alice.
-A gente consegue, Pedro.
-É.
Silêncio amistoso.
-Um dos gatos podia se chamar Mustache
-Não sei, Al. Os mais velhos da família não vão saber pronunciar. Que tal Rodolfo?
-Que tal um Mustache, um Rodolfo e um Gato.
-Um Gato?
-É, Pedro. Um gato chamado Gato. Não vai ter erro.
-Tá.
Novo silêncio amistoso.
-Acho que vai dar certo, Pedro.
-O quê? Os nomes pros gatos?
-Não, a gente. Acho que a gente vai dar certo.
-Discordo.
Silêncio amistoso de um lado. Conflituoso do outro.
-Discorda?
-É. Acho que a gente não vai dar certo. Já tá dando certo. Vai ser sempre certo.
-Boa resposta. Dez pontos pro time dos meninos.
Pedro riu. Alice também.
Como sempre.
Pra sempre.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Interno

Ele a leva no bolso interno, bem guardada. Seu maior tesouro. Ele a mantém sempre junto, do lado esquerdo do forro de cetim. Sempre sorri quando pensa nela, no jeito dela, no cheiro doce dela. Nela.
Ela. Que ele guarda do lado esquerdo do peito. Dentro do bolso interno. Dentro do coração

terça-feira, 18 de março de 2014

Daqui a pouquinho

Tem uma chuva calma, dessas boas de dormir e eu queria muito que tu estivesse aqui agora. Teu braço envolta da minha cintura. Teu abraço em torno de mim. Queria teu calor agora. Aqui. Do meu lado. Nós dois com xícaras de café ou de chá. Nas cobertas. Nós dois e a chuva calma, dessas boas de dormir.
Nós dois, logo. Daqui a pouquinho. Te espero e já vou esquentando a água.
Pro chá ou pro café. Pra nós dois.  Pra daqui a pouquinho.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Saudade antecipada e chá de amor

O céu tava meio cinza. Meio branco. Estava pálido, como Mariana.
-Ainda com dor de cabeça? De estômago? Tá com uma carinha amuada- disse Milena para jovem, enquanto ela tomava o café da manhã.
-Não, Dona Milena, tô bem melhor. Impressão tua.
-Deve ser- respondeu a matrona desconfiada.
Havia verdade ali. Mariana estava mesmo pálida. Branca feito giz. Mas a dor dela era de coração. Ela já sentia saudade da estância e nem tinha ido embora ainda. Ela já sentia a falta de Rodrigo e nem se despedira ainda.
-Bom, se me dá licença, criança, vou ajeitar umas coisas lá nos meus canteiros. Fica a vontade, Mariana- e Milena saiu.
Logo após, passos faziam o chão de madeira ranger. Rodrigo surgiu na porta da cozinha e aquela dor de coração rasgou mais um talho no peito de Mariana.
-Tem dores que chá de boldo não curam, Rodrigo. Descobri isso ontem.
Ele suspirou e depos riu tristemente.
-É. Não vi ainda chá que cure saudade.
-Se tivesse eu já tinha tomado. Ia tomar até voltar pra cá.
-Quem sabe tu não vai. Tu fica.
-Não posso ainda.
-E um dia?
-Um dia vou poder. Daí eu fico. Daí paro de procurar chá que alivie saudade.
-Tu sempre vai ter uma xícara de chá de amor feita por mim. Pra aliviar qualquer dor.
-Eu sei. Tu também sempre terá meu chá feito de amor, Rodrigo.
-Quando tu volta, Mariana?
-Logo. Antes que eu precise de mais chá de boldo.
Eles sorriram.
-O chá de boldo de ontem te fez bem?
-Fisicamente sim. Mas eu ainda preciso de um abraço teu pra aliviar meu peito.
-Vem aqui então.
Rodrigo puxou Mariana pra si e experimentou sua boca. Esqueceu-se que o pedido era de um abraço. Saboriou bem seus lábios. Tão doces e macios. Soltou-a.
-Desculpa.
-Melhor que chá de boldo- devolveu ela.
-Concordo.
Passos no chão de madeira. Seu Antônio, pai de Rodrigo, imponente como poucos, invadiu a cozinha.
-Vamos Mariana? Milena tá lá na frente já, pra te dar tchau. Vem Rodrigo, vocês se despedem lá fora.
Os dois se olharam. Sim, iam se despedir lá no quintal. Mas, felizmente, seria por pouco tempo.

Chá de amor

Batidas na porta de madeira escura.
-A mãe mandou te trazer chá de boldo - disse Rodrigo enquanto entrava no quarto de Mariana com uma caneca branca nas mãos.
-Obrigada- ela sussurrou com a voz rouca- Chá de boldo é bom pra dor de cabeça e de estômago? - perguntou.
-A mãe disse que é bom pra tudo. Até pra dor de coração - respondeu Rodrigo.
Sorriram. Silêncio.
-Acho que foi o churrasco do teu pai. Me embuchei- riu-se Mariana.
Rodrigo gargalhou.
-Tava bom mesmo- ele concordou.
Mariana sorriu.
-Quando eu voltar pede pro Seu Antônio fazer um churrasco desses de novo?
-Pode deixar. Agora, toma logo esse chá pra ficar boa duma vez.
Rodrigo lhe entregou a caneca.
-Tá. Que ele cure minha dor de cabeça, de estômago. E de coração.
Silêncio. Sorriram. Rodrigo afastou os cabelos negros de Mariana e lhe beijou a testa.
-Amém! Até logo, guria.
-Até!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Aquele aroma

Ela sentia cheiro de cravo enquanto os lábios dele tocavam os dela. E ela nunca gostou tanto daquele aroma. Ela olhava pros lados e dava de cara com aquelas paredes, que ela gostava tanto, com o reflexo meio confuso dela, dele.
Ele a abraçava e ela sentia cheiro de cravo. E nunca ela gostou tanto daquele aroma.
Eles sentiam a respiração um do outro. O vento que vinha da rua.
E ela sentia o cheiro de cravo nas mãos dela. E nas dele.
E ela nunca gostou tanto daquele aroma.
E ás vezes ela fecha os olhos e sente aquele cheiro de cravo. Sente ele. E ela nunca gostou tanto de ser assim. De ser ela.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Tranquila

Conversar costuma ajudar. Ajudou um pouco Valentina. Agora ela não sente mais o peito tão pesado. Agora as costas estão um pouco mais leves. Os sorrisos mais largos.
Conversar costuma ajudar e tá ajudando a Valentina.
Tudo vai melhor, fica tranquila, Valentina, fica tranquila.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Juntos

Enquanto o som mais alto que se podia ouvir era o das gotas da chuva batendo no telhado os dois permaneceram abraçados. Grudados. Juntos. Braços. Mãos. Cabelos. Pernas.
Juntos. Juntas. Juntos. Juntas. Juntados.
Enquanto o som mais alto que se podia ouvir não era o das gotas da chuva batendo no telhado os dois permaneceram abraçados.
Depois de um tempo, os dois não estavam mais abraçados. Mesmo assim, permaneceram juntos. Juntados.
Unidos. Com chuva ou sem.

Amoras pro meu amor

Pedro veio equilibrando uma tigela de amoras como se sua vida dependesse disso. Alice estava esticada no sofá. Uma das pernas (e pé de meia listrada) apoiada na guarda do sofá vermelho.
-Amoras pro meu amor- disse Pedro rindo e sentindo-se o mais sagaz dos poetas.
-Genial- disse Alice se sentando como uma mocinha de respeito e enchendo a boca de amoras como um pivete mal criado.
Em seguida a jovem resmungou algo com a boca cheia. Pedro interpretou como um "Nossa! Que delícia!", mas podia ser qualquer outra coisa em qualquer outro idioma conhecido ou não.
Pedro foi até a cozinha. Quando voltou não havia sinal de amoras. Elas poderiam não ter passado de um sonho não fosse a tigela nas mãos de Alice e sua boca e queixo manchados.
-Gulosa.
-É feio recusar presente- ela respondeu limpando a boca com as costas da mão.
-É uma princesa mesmo. Quem disse que as amoras eram um presente?
-Quem disse que não eram?
-Droga.
-Venci- ela disse triunfante.
-Venceu- devolveu Pedro rindo- vou pegar mais presentes.
-Amoras?
-Sim. Amoras. Amoras pro meu amor.
Alice riu e esticou-se de novo no sofá. Fechou os olhos e esperou por mais amoras e pela volta do seu poeta. Meio desajeitado, mas seu poeta. Seu Pedro.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Festa

-Uma vez me disseram que gostar é quando tem uma festa de aniversário no peito da gente.
-Acho que tu me deve parabéns então.
- Por quê? Tem festa aí? No teu peito?
-Uhum. Das grandes! E tu é convidado de honra.
-Levo presente?
-Traz futuro também. E não te atrasa.
-Pode deixar. Chego logo. E bolo tem?
-Tem tudo de doce.
-Tem tu?
-De monte.
-Maravilha. Feliz Aniversário então.
-Obrigada. Fica pra janta?
-Fico.
-Pro café?
-Fico.
-Não vai mais embora?
-Não.
-Que bom. Agora, me ajuda a servir a torta. Depois a gente vê dos pacotes de presente.
-E de futuro.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Quinta de junho

Ás vezes parece junho, mas eu não gosto de junho. Eu gosto do frio de junho, que eu encontro e abraço em outros meses também. Mas não gosto mais de junho. Nem é culpa de junho mesmo. Mas ainda sim, não gosto dele.
Eu poderia não gostar de maio, mas eu não gosto de junho. Só gosto do frio de junho. Desse eu gosto. Gosto das férias de junho também. Mas não de junho. Eu tenho um pouco de medo de junho, na verdade. Talvez não seja falta de simpatia por ele. Talvez seja receio dele.
Mas eu fico bem, se junho vier e eu não estiver sozinha.
Eu fico bem. Se eu não ficar só.
Eu fico bem, se tu me cobrires com tua coberta.
Numa quinta-feira fria de junho.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Era uma casinha

Era uma casinha de madeira branca e linda. Perto do mar e linda. Pequena e linda. Da onde se podia ver um pôr-do-sol também lindo. Laranja e lindo. Aonde se passavam tardes lindas. Noites lindas. Manhãs lindas.
Lá na casinha branca dá para ouvir o mar. Dá pra se ouvir as gaivotas. Dá para se ouvir o silêncio. Dá para se sentir a paz.
Lá na casinha branca de madeira dá para ser o que se é e, principalmente, ser feliz.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

De doce, de amor

A pequena se labuzou de rosquinhas. Comeu até se perguntar como poderia não haver mais espaço na sua barriguinha de 8 anos.
Mas sempre tinha espaço. Então, quando veio o pudim, ela deu um jeitinho. Quando veio o doce de laranja também. Quando veio o bolo de chocolate, coube mais uns dois pedaços. Cabia tudo naquela barriguinha.
Cabia tudo que era feito de doce. Tudo que era feito de amor.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Gratos

De pele gasta, de cabelos gastos e grisalhos a senhorinha se embala na cadeira da varanda. O vento balança os poucos cachos que haviam se desprendido de seu coque elegante. Os grisalhos fios roçam nas bochechas rosadas de Camélia enquanto ela olha pra frente. Sempre pra frente.
A vovózinha olha para seu jardim. Cheio de rosas, de margaridas e de camélias. As últimas, plantadas pelo seu marido, Onofre.
-Aliás, por onde anda o velho?- ela pensa em voz alta.
A resposta é um tilintar de vidros.
Onofre aparece na varanda com uma bandeja e copos lotados de suco de limão.
-Pra você, minha flor- ele diz entregando, trêmulo, um copo para a mulher.
Ela o pega sorrindo e bebe metade num gole só.
-Flores tem bastante sede- diz Onofre.
-É o que tu sempre me disse, meu velho.
-E a Carmem? Vem hoje? Aquela filha ingrata!
-Deve vir, se não deserdo ela.
Onofre ri.
-Tomara que ela traga as crianças. Faz tempo que o Benjamim e a Ana não vem.
-Faz tempo que o Benjamim e a Ana não são mais crianças, Onofre.
O velho revira os olhos.
-Que eles venham.
-Eles virão.
-Aliás, querida.
-Que foi?
-Feliz Aniversário.
-Obrigada, meu velho.
-Te amo, minha flor.
-Obrigada.
-Camélia...
-Te amo, seu velho bobo. Muito.
-Obrigado.