sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Feliz

Valentina aproveitou o dia para agradecer todas as coisas boas que vem acontecendo. Fechou os olhos, deixou o vento fazer cócegas na sua bochecha e nos cabelos. Então, ela riu que nem boba e foi dormir sozinha. Mas não solitária, sozinha e feliz.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Desculpa, achei que era amor, mas era fome

Pode esquecer aquilo tudo que eu te disse. Eu tava com fome e não dá pra confiar em alguém quando ela está com fome, né? Claro que é, relaxa aí e esquece que eu disse que te amo e que minha vida sem você não teria graça. Era fome. Relaxa aí já comi uns hambúrguer no bar da esquina e até esqueci teu nome.
Fica de boas aí que enquanto eu estiver de estômago cheio meu coração também não esvazia.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Roubando amores

Ele olhou pro lado uma, duas e três vezes. Depois de novo e aí perguntou pro amigo se ela já estava chegando.
-Não- respondeu.
Foi aí que ele aproveitou a brecha. Colocou o braço entre as hastes do portão e pegou aquele botão de margarida com toda a vontade que tinha. A margarida era a melhor flor que ele poderia roubar, pensou, já que costumava representar amor puro e sensibilidade. Ploc fez o caule da florzinha e a pôs no bolso mais que depressa.
Quando a sua moça chegasse teria uma surpresa florida e linda.
Tudo pelo sorriso da moça aquela, que era dona não só da margarida que estava em seu bolso, mas também do coração que batia no peito dele.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

As preferidas de Mariana

Ela estava no campo, perto do cavalo que o pai de Rodrigo havia comprado pra fazenda. Seus cabelos negros balançavam ao vento. Dessa vez, Mariana não havia prendido os cachos em uma trança e eles rodavam por seu rosto de pele branca. Rodrigo veio se chegando, bem devagar pra não assustar a guria.
Foi como se Mariana previsse os movimentos de Rodrigo, ela vira o rosto pra ele, toda sorriso. Parece que nessa hora uma coisa no peito dele esquenta, derrete e depois esfria, tudo junto. As flores que ele traz na mão chegam a tremer.
-Oi! - ela diz simples e linda.
-Te vi aí e fiz de novo, roubei copo-de-leite da floreira da mãe - responde ele.
-Mas tu tá loco, Rodrigo! Dona Milena vai ficar louca contigo - ri Mariana e apesar da discussão, aceita as flores.
- Elas significam pureza, calma e tranquilidade, Dona Milena não vai brigar comigo, fica tranquila, Mariana.
Nessa última palavra ela deu um sorriso bem de cantinho, bem pra ela mesma. Rodrigo não sabia, mas ela se deliciava quando ele dizia o nome dela.
-Tu me trouxe elas por causa do significado que dizem que elas tem, então? Isso da tranquilidade e tudo mais?
-Bem capaz - respondeu ele ligeiro e sincero - trouxe porque são as tuas preferidas. Gosto quando tu sorri segurando uns copos-de-leite nas mãos.
Mariana silenciou por um minuto.
-Tá - gaguejou.
-Tá?
-Obrigada, eu disse.
-Tá - ele respondeu.
- Tá?
-Eu disse de nada - sorriu Rodrigo.
Dessa vez, sem Mariana saber direito o porquê, foi na mão dela que o buquê de copos-de-leite tremeu.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Companheiras

Por enquanto, Valentina ainda estava de pijamas. Tinha levantado um pouco mais tarde e tomado o café preto com calma. Enquanto saboreava a bebida quente e comia um pão novo e delicioso com margarina, ela lembrou-se. "Minhas flores!". Poxa, há quanto tempo que Valentina não regava suas queridas brinco-de-princesa? Ela levantou-se, tirou os farelos de pão que haviam caído na calça do pijama e foi atrás do regador. Valentina o encheu bem e carregou o dito cujo, pesado de água, em direção às suas flores, símbolo do Rio Grande do Sul.
-Oi, queridas! - cumprimentou ela.
Estava frio naquela manhã, o que para as brinco-de-princesa é algo bem-vindo. Valentina despejou a água em suas amigas e sorriu. Como era bom cuidar das suas companheiras cor-de-rosa.
-Fiquem bem, eu volto amanhã. Preciso lhes dizer umas novidades. Vocês nem vão acreditar... - acariciou umas pétalas e saiu risonha.
Para Valentina, não havia problemas em falar com as plantas, elas eram suas companheiras, né? Em sua mente, ela só acharia errado, se, em algum dia, as flores lhes respondessem.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Presentear

Como que para agradar Edgar, Anna aceitava todo o presente que ele dava. E, caramba, como Edgar dava presentes. Flores, chocolate, meias, blusas, anéis. Mais flores, sorvete de flocos, toalha de mesa, de banho. Tudo vinha com um bilhete ou um beijo. Ás vezes até com os dois. Eram coisas de muito bom gosto também. Mas Anna, apesar de tudo, aceitava esses mimos com o único objetivo de agradar Edgar. Na real, ela não gostava de presentes. Ficava meio sem jeito de ver que alguém passou tanto tempo e gastou tanto dinheiro com ela. Além disso, como era um parto rasgar papel de presente. Mas não tenham Anna como alguém amarga. A guria era faceira e muito gente fina, a questão é que ela não sabia lidar e só lidava, porque maior que o constrangimento dela, era seu amor por Edgar.
Por causa de Edgar, ela até aprendeu a lidar um pouco com presentes e festas surpresas, mas um dia não pode mais.
-Eu não aguento mais - disparou Anna, de repente, em uma tarde de domingo, quando os dois estavam deitados, quase cochilando.
-Que tu não aguenta mais, Anna?
-Todos esses presentes. Eles são lindos, mas eu acho que vou enlouquecer. Eu não aguento mais presentes.
-Eu tu aguenta?
-Mas deixa de ser ridículo! É claro que sim, eu aguentei todos esses presentes pra que tu não te fizesse ausente, Edgar. Mas, por favor, chega!
-Hum - considerou ele, virando-se pra Anna - ok.
-Ok? Assim, simples?
-Uhum.
-Eu achei que seria bem pior.
-Por isso não falou antes, né?
-É!
-Depois sou eu que sou ridículo, Anna.
-Grrrrrrrr! - Anna, algumas vezes, não sabia o que dizer, então rosnava.
-Beleza, nunca mais te dou presentes.
-Ok, não vamos exagerar, mas de qualquer forma tu é meu presente, Edgar.
-Nossa, Anna, que brega.
-Eu sei, o amor é brega, cara.
-Credo... De novo.
Ela revirou os olhos. Edgar gargalhou.
-Relaxa, eu também te amo - respondeu.
Logo depois, os dois cochilaram pra sonhar, no presente, com o futuro que teriam, sendo, cada um, o presente do outro, no futuro do outro.