domingo, 22 de setembro de 2013

Nada

Vicente pegou o violão e passou os dedos pelas curvas do instrumento, lembrando-se das curvas de Valentina. Da cintura, das pernas, dos cabelos, dos lábios.
Passou os dedos pelas cordas, distraidamente. Sem saber o que fazia, se devia, se podia.
O tempo deu a sensação de voar e parar, enquanto Vicente lembrava, sentia saudades, sofria, tocava, doía
Depois silêncio. Depois nada. Depois um cravo em cima da mesa. Depois por onde anda Valentina? Depois nada.
Nada.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Um cravo para uma rosa

Valentina jogou as chaves em cima da mesinha de madeira, ao lado da porta. Arremessou o casaco preto em cima do sofá e foi correndo para a cozinha. Precisava de um café. Bem quente. Bem forte. Bem sem açúcar.
Ao chegar na soleira da porta congelou. Ali, em cima da mesa de jantar, um botão de cravo repousava na mesa. Junto dele, um bilhete azul escuro. Valentina se aproximou. Pegou a flor. Pegou o pedacinho de papel.
Em prata, apenas cinco palavras: Te vi passar ontem, pequena
Valentina sorriu. Já sabia o remetente do presente.
Vicente!

domingo, 8 de setembro de 2013

Amargo

Se eu pudesse te serviria um chimarrão entupido, porque seria a única vingança que seria capaz. Mas, o melhor mesmo é nem te ver. Não te ouvir. Correr quando eu sei que posso te encontrar. Te servir um chimarrão entupido é me importar demais. É gastar tempo tentando errar em algo que sou muito boa. É gastar vida contigo. E eu não quero mais gastar vida contigo. Tu já me ocupou demais, me atrapalhou demais. Me trancou mais que mate entupido.
Chega de ti. Querer vingança é querer mais do que tu merece. É te querer e eu não te quero mais.
Nunca mais.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Mais uma vez

Tem algumas saudades que não dá para matar em poucos minutos, mas é o que se tem. Hoje Vicente viu Valentina. Ela estava abraçada em um livro e caminhava apressada, louca para chegar em casa, louca pra sair do meio daquela gente toda. Ele estava distraído, em uma mesa daquele café que os dois adoram, ou adoravam.
Vicente pensou em chamá-la, mas ela parecia estar nervosa e desconfortável. Ela não parecia disposta  a conversar. Então, ele desistiu e deixou ela passar.
Vicente deixou Valentina passar. Mais uma vez.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Primeiro amor de Valentina

Valentina tomou um bom gole de susto ao abrir o jornal. Ali estava o seu primeiro amor. Lindo em preto e branco. Sorrindo para ela.  Há quanto tempo que não se viam? Ela não fazia ideia. Sorriu de volta para fotografia. Olhou-a bem. Ele parecia o mesmo, só que mais alto. Com o mesmo cabelo para o lado, que parecia meio bobo quando os dois eram pequenos, mas que agora ficava perfeito nele. Ele ainda tinha aquele sorriso de quem ia aprontar alguma coisa. Os olhos bem espertos e com um brilho que nem a tinta opaca, do jornal meio furreca, conseguia apagar.
Ele era o mesmo guri. O mundo dos adultos não o mudara. Não o ferira, nem arranhara. Era bom saber disso.
Valentina fechou o jornal e pegou a caneca de café que já tinha esfriado. Esperando que ela o bebesse, esperando, pacientemente, que ela retornasse de um passado cheio de lembranças quentes e saborosas, como cada gole daquele café.