terça-feira, 30 de abril de 2013

Sobre a mulher mais linda do mundo

Cabelos negros, olhos cinzas e sábios. Boca carnuda e sorriso grande. Grande e maternal. Braços macios de tanto presentearem os outros com os melhores abraços.
Ela tem o mundo desenhado nas poucas linhas do seu rosto. Já viveu e sacrificou muita coisa por amor. Amor próprio, pelos filhos, pela famíla, pela vida.
Ensina, lê e escreve. As mãos cheias de pintinhas já educaram e despertaram o gosto por um bom livro em muita gente.
A mulher mais linda do mundo. A mulher mais linda do mundo, chama-se Fátima.
A mulher mais linda do mundo, me atende sempre que a chamo de mãe.

sábado, 27 de abril de 2013

Deixa pra lá

Ela notou a repetição, mas ficou em silêncio. Franziu o cenho. Ficou um pouco ofendida, é verdade, mas... Deixa pra lá, certo?
Hum, talvez. Deixar pra lá mesmo? Acho que sim, não foi por mal, né? Não, né? É.
Foi sincero, né? É.
Ah, então tudo bem. Deixa pra lá a repetição. Traz pra cá a sinceridade.
Depois a gente cuida do resto.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O problema de Valentina

Valentina sentia dores fortes nos braços. Não, ela não estava doente. Não ela não tinha sofrido nenhum acidente. Não, não era culpa da vacina da gripe.
Valentina estava preocupada. Estava nervosa e seus braços doíam por isso. Doíam porque queriam algo.Precisavam.
Valentina sentia fortes dores nos braços porque estes (e ela também) precisavam de um abraço. Não de qualquer abraço.
O problema de Valentia era que o abraço certo estava longe. E não seria hoje que ela o teria.
Então, os braços de Valentia continuariam a doer, até a próxima semana.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Pra lembrar #2

Provavelmente tu não percebeu. Ou se percebeu não lembra mais. Foi bem rápido e espontâneo. Foi sem querer e foi sincero. Notei quando aconteceu, mas só fui realmente pensar sobre isso horas depois.
Confesso que essa lembrança me assola com frequência. É sem querer. É sem pensar. Ela simplesmente aparece, acompanhada de um sorriso.
Sempre sorrio quando percebo. Sempre sorrio quando lembro. Da tua mão na minha.

sábado, 20 de abril de 2013

Sobre flores de domingo

Os dois se conheceram quando Elvis Presley ainda lançava discos e requebrava nos palcos da terra do Tio Sam.  Ela tinha um lenço vermelho no pescoço e ele aquele sorriso atrevido, escondido no canto da boca. 
Dançaram a noite toda. A desculpa perfeita para ele segurar a mão macia dela. A melhor forma que ela encontrou para ver de perto os olhos escuros dele. Ela ainda lembra o que ele lhe disse no pé do ouvido. Ele não. Talvez lembre que ela sorriu. Porque o sorriso dela valia a pena ser lembrado, em qualquer situação.
O namoro foi longo. O noivado curto. O casamento durou uma vida.
Ele sempre levava flores para ela. Ela as colocava em um vaso de porcelana antigo. Agora isso mudara.
Ela que levava flores. Todos os domingos.  E ele não tinha onde guardá-las. Nem como agradecê-las.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nos cantos

No canto do sofá. No canto do quarto. No canto do canto. No canto da esquina, que já é um canto. No canto do teu casaco, da tua camisa. No teu canto.
No canto da tua boca.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

E eles sabiam

Os cachos de Anna queimavam de vermelho o sofá que Edgar comprara na liquidação de Natal do ano passado. A garota tinha o costume de cochilar ali. Ás vezes a culpa era de um filme chato, um livro cansativo ou um cara que costumava se atrasar. O cara que costumava se atrasar agora a observava. Ele achava engraçadinho a maneira como ela entreabria os lábios ao adormecer. Adorava a  forma como os cílios faziam sombra nas bochechas. Só não gostava daquele vinco na testa dela, bem discreto, entre as sobrancelhas desenhadas. Não gostava porque fora provocado por ele. Por seu atraso.
Anna não gostava de esperar. Edgar sabia. Anna só esperava por uma pessoa no mundo todo. Só esperava por Edgar. E Edgar sabia.
Anna abriu os olhos cor de prata. Ela sorriu. E ele soube que o atraso havia sido perdoado. E Anna sabia que Edgar sabia.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Maçaneta

Anna não lembra de ter chorado tanto assim nos últimos tempos. Os olhos cinzas estavam vermelhos. Pela primeira vez na vida ela não gostava da cor, a mesma de seus cabelos.
Olhou para os fios cor de fogo. Olhou para seu reflexo no espelho quebrado. Por onde andava Edgar? Seus braços doíam porque não podiam abraçá-lo.
Anna tinha um nó na garganta que nenhuma das lágrimas que manchavam seu rosto conseguiu desatar.
Doía tanto! E ela nem sabia ao certo o que e porque doía.
Deu um sorriso triste para moça de olhos nublados que a encarava no espelho partido. Ela sorriu de volta.
Anna suspirou. A maçaneta da porta moveu-se.
Um novo sorriso. Dessa vez sem tristeza.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Posso?

Só uma dúvida, uma pequena questão. É rapidinho, é só algo que gostaria de perguntar antes de tu sair. Pode ser? Não estou atrapalhando? Não, não precisa sentar, é rápido, como disse antes.
Só uma questão boba. Agora, tu me olhando assim, nem sei se a faço realmente. Se ela é importante.
Eu... Só queria saber se posso responder o teu "querida" com um "meu bem". Posso? Essa ideia me ocorreu e eu achei que deveria lhe pedir.
Então? Eu posso?

Para lembrar

Você apenas a olhou. E Valentina ficou desconcertada. Ela acha que sorriu. Não tem certeza.
Será que o mel de Valentina conseguiria ser mais doce e terno que o teu céu esverdeado? Ela esperava que sim.
Tentou corresponder. Esperava ser entendida.
Foram apenas segundos, e algumas horas depois, ela ainda pensa nisso. Sempre se lembrará, com carinho, daquele olhar terno. Com um sorriso no rosto.
Como sempre acontecia quando lembrava dele e de seu céu azul esverdeado.