domingo, 29 de abril de 2012

Tempo


Tentou gritar. Uma, duas, três, milhares de vezes. Sussurrou muitas vezes e em nenhuma delas foi atendida, ouvida ou mesmo compreendida.
Uma pena, ela tinha tanto para dizer a ele. Tanto assunto, tantas ideias, tantas opiniões, tantas piadas. Mas, em algum momento, ela cansou. E depois, percebeu que não era isso. Alguma coisa tinha saído errado e ela não persistiria no erro. Não por enquanto, ao menos.
Um tempo, era isso. Ah, o tempo... Ele pode ser tão engraçado. Deixe que ele haja, não há mais o que se fazer, ao que parece, resta-nos esperar.
Até a próxima batida do relógio.


Verdade


E a verdade a atingiu no peito de uma forma quase física. Ardeu, queimou e fez seus olhos transbordarem. Acho que ela nunca chorará por algo assim. Bom, nem ela sabia ao certo. De repente era só um vazio no peito e tremor nas mãos. Nas mãos frias e suadas. Os olhos cansados e o nariz fungando. Um nó na garganta, que com o tempo desmancharia e levaria tudo de ruim com ele.
Como sempre, tudo voltaria a ficar bem.

sábado, 28 de abril de 2012

Sonho


Então, quando você pegou minha mão eu soube que era um sonho.  Quando você a acariciou e sorriu olhando para mim eu tive certeza que era um sonho. Ao acordar não tive aquele choque de realidade, porque sabia que não era real. Você ali comigo. Olhando diretamente para mim. Pf, sonho! Com certeza!
Infelizmente...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ladrão que rouba ladrão...


Miranda posicionou o bolo de chocolate sobre a pia da cozinha.
-Viu, só?- perguntou triunfante- e nem colocamos fogo na casa.
Roberto sorriu. A tarde estava sendo incrível. Miranda chegara cedo e os dois começaram a trabalhar nas guloseimas para o piquenique do dia seguinte. Biscoitos, bolos e pães. Tudo bem que Miranda fez a maior parte, mas ele estava feliz por ajudá-la. Vê-la cozinhar era delicioso. O sorriso que permanecia em seus lábios, os olhos verdes brilhando, os segredos culinários que ela sussurrava para Roberto...
-Uma pena... Queria tanto testar os extintores- respondeu ele. Miranda gargalhou. Será que ela sabe o quanto fica linda rindo? Roberto se perguntou.
De repente os olhos castanhos de Roberto estavam encarando Miranda de um jeito que ela não esperava. Pareciam vasculhá-la em busca de respostas. Mas quais eram as perguntas mesmo?
-Não me olhe assim. Você também ajudou. Seu castigo foi cumprido- disse Miranda desviando o olhar de Roberto e encarando sua obra prima- Esse bolo deve estar incrível-sussurrou ela.
-Que tal experimentarmos?- sugeriu Roberto, um brilho nos olhos. Parecido com o das crianças que estão prestes a fazer alguma marotice. Miranda assentiu.
Os dois atacaram o bolo de chocolate. Atacaram, realmente. Não sobrou uma mísera migalha
para contar a história. Miranda esticada no sofá da sala de Roberto olhava tristemente para a forma vazia.
-Que droga-reclamou em voz baixa
-Pelo menos agora a gente tem certeza de que estava bom- consolou-a Roberto.
Miranda riu e olhou para Roberto. Um pouco da calda de chocolate restara maliciosamente perto da boca dele. Que maravilha, como se ela já não se sentira tentada a beijá-lo durante toda a tarde.
-É-é- gaguejou ela, sem tirar o olhar da bendita mancha.
Roberto franziu o cenho. O que ela tanto olhava? Será que ele estava com uma sujeira na boc...Sim! Ele estava com uma sujeira na boca, provavelmente um restinho do bolo. Isso que dava uma ideia.
-O que?-perguntou inocente- Estou sujo?
Miranda ficou vermelha. Bingo! A suspeita de Roberto estava correta.
Miranda respirou fundo. Uma, duas, três vezes e aproximou-se de Roberto, que estava sentado no tapete a sua frente, lentamente. Aproximou-se até poder sentir sua respiração perfeitamente.
-Sim, está sujo sim. Deixa que eu limpo- e então o beijou demoradamente- Pronto- ela disse afastando-se, voltando ao seu lugar no sofá.
Roberto ficou chocado. O plano era ele pedir para que ela limpasse, não que ela... Enfim, ele gostara de qualquer maneira.
Miranda ainda limpava os cantos de sua boca quando Roberto recuperou a voz.
-Uau- exclamou ele simplesmente.
-Agora você sabe o que é ser pego de surpresa, rapazinho- devolveu ela estreitando os olhos. Mas Roberto desconfiava que ela tentava mesmo era esconder um sorriso no canto dos lábios.

sábado, 7 de abril de 2012

E o castigo é anunciado


No meio da tarde, quando a cesta de piquenique estava vazia e nossas barrigas cheias, Roberto virou-se para Miranda e perguntou:
-Então, já pensou qual será minha punição?
Miranda o encarou por alguns segundos. Punição? Ah, sim, por ele a ter roubado dois beijos. Não que ela estivesse realmente ofendida com tudo isso...
-Sim, já tenho uma punição- ela sorriu de um jeito estranho.
Roberto não gostou. Será que ela o faria provar aqueles chás estranhos? Ou aquela sopa que ele não sabia nem metade dos nomes dos vegetais que boiavam nela? Ele respirou fundo.
-Manda. Qual é o castigo?
-Preparar o próximo piquenique- respondeu ela triunfante- Mas eu estou me referindo a comida...Os lanches... Não trazer a toalha e você mesmo para debaixo dessa árvore.
Roberto riu aliviado. Era só isso? Tudo bem, ele poderia encarar facilmente.
-Desafio aceito. Além do mais tem aquela padaria perto de casa e eu...
-Nada disso!-interrompeu Miranda erguendo o dedo indicador na frente do rosto de Roberto- Você vai preparar o piquenique, entende? Preparar... COZINHAR!
Roberto encarou Miranda por alguns segundos. Como é? Cozinhar? Ela sabia que ele NÃO SABIA cozinhar.
-Miranda, eu colocarei fogo na minha casa se eu tentar uma maluquice dessas...
-Sem desculpas, eu vou supervisionar tudo- respondeu ela erguendo o queixo levemente.
Hum. Então ela teria que passar uma tarde na casa de Roberto. Uma tarde inteira antes do piquenique. Uma tarde inteira para os dois. Uma tarde a mais do que o habitual. A ideia estava começando a ficar mais interessante aos olhos castanhos de Roberto.
-Tudo bem- respondeu ele- Mas leve um extintor de incêndio, senhorita.
-Levarei dois, só para garantir-sorriu ela.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

E o piquenique continua


-Por acaso não tem mais aí, não?
A pergunta de Roberto ecoou na cabeça de Miranda. Ele estava sugerindo o que ela achava? Mesmo? Quando ela abria a boca para responder ao invés de palavras ela soltou um gemido. O bule de café que ela matinha nas mãos quando Roberto a beijara havia derramado um pouco do líquido em suas mãos. Um pouco de líquido quente.
-Droga- murmurou ela puxando um pequeno pano branco e limpando suas mãos. Ela acabara com o clima romântico que se instalava ali em menos de um minuto. Como ela podia ser tão desastrada?
Roberto aproximou-se e a ajudou, limpando o restante do café das mãos trêmulas de Miranda. O tremor, os dois sabiam, não tinha nada a ver com a bebida quente que caíra ali...
-Tudo bem?- ele perguntou.
-Agora eu também tenho gosto de café- ela riu erguendo a mão direita.
-Estamos empatados- riu Roberto.
Os dois permaneceram se olhando, inseguros. Como agir agora? Miranda estava quase perguntando se os dois haviam mesmo se beijado ou se ele escorregara acidentalmente, quando Roberto fez exatamente a mesma coisa de antes. Aproximou-se, tocou-lhe os lábios e depois se afastou mal dando tempo para Miranda processar o que acontecia.
-Dá pra parar com isso?- perguntou Miranda, o tom de voz um pouco irritado.
Roberto franziu a testa.
-Parar com o quê? Os beijos?
-Não!- disse Miranda rapidamente, rápido até demais ela julgou depois. Para quê tanto desespero?, ela disse para si mesma- Com esses...Esses ataques surpresa!
Roberto riu. Ataques surpresa. Só Miranda para surgir com uma dessas. Quando ele achou que ela viria com um discurso sobre a velha amizade deles, ou sobre ela sempre ou nunca ter amado ele, ou sobre quantos germes e bactérias devem haver na saliva humana, ela fica irritada por ele lhe ter roubado dois beijos.
-Quer começar a marcar hora? A gente pode agendar esse tipo de coisa se você quiser- respondeu ele.
Miranda estreitou os olhos verdes e bufou. De repente ela estava muito parecida com um gato irritado. Roberto não pode deixar de rir.
-Não é questão de marcar hora, é que você simplesmente chega perto de mim e me beija e quando eu estou simplesmente processando o fato você já se afastou, como se nada tivesse acontecido, e eu fico aqui me perguntando se isso foi real!- Miranda falou tudo isso nunca velocidade impressionante, obrigando-a a respirar fundo logo após.
-Bom, é por isso que chamam de beijo roubado, Miranda. Porque é sem aviso- respondeu Roberto calmo, apesar de estar se divertido para valer por dentro.
-Então, você é um ladrãozinho de beijos descarado?- ela perguntou.
Roberto a analisou antes de responder. Não, ela não estava realmente irritada. Ela gostava da ideia de ele ter a beijado. Havia um sorriso no canto de sua boca, lutando para manter-se escondido.
-É, eu sou um ladrão descarado de beijos-confessou ele- O que posso fazer?
Miranda deu de ombros.
-Pensarei em uma punição adequada enquanto comemos. Agora, me passa o bolo de cenoura sim?