quinta-feira, 12 de abril de 2018

Movimento

Já havia passado das 18h e naquela época do ano o sol já tinha ido para bem longe dali e um vento fresquinho balançava as folhas da figueira ao lado.
Os dois estavam sentados, um ao lado do outro, no banco de madeira velha da Dona Carmen. A Dona Carmen não estava ali, só o banco dela. O banco dela e os dois sentados no banco. Se perguntassem para ele (mas ninguém perguntou) ele sentia o cheiro doce e quente da pele dela. Se perguntassem para ela (mas ninguém perguntou) houveram alguns silêncios constrangedores entre os dois. Nada que durasse muito, mas vocês conhecem os silêncios constrangedores: dez segundos equivalem a dez anos.

-Bom, eu vou indo então...
-Tá...
-Se quiser eu fico mais um pouquinho, tô sem horário hoje
-Eu ia gostar.
-Tá...

Ninguém se moveu. Nem mais o vento que soprava antes se atreveu a se mover. As luzes de segurança (que se alguém me perguntasse eu diria que eram ativadas por movimento) se desligaram. Os dois ficaram ali imóveis. Porém, se batimentos cardíacos ativassem luzes por movimento era bem provável que quem visse de longe poderia imaginar que havia um show de luzes ali por perto.

Atchim! 

As luzes de movimento se acenderam.
-Saúde.
-Obrigada.

Dez anos se passaram.

-Eu vou indo então
-Eu também então.

Aí eles se foram. O vento voltou a soprar logo em seguida. O banco da Dona Carmen continuou no mesmo lugar.
Naquele dia nada mudou. Mas parecia que tudo tinha mudado.