terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Lar

-Mas eu não quero ir, vô! - disse a pequena balançando os cabelos escuros.
-Ora, querida, vai ser melhor. A casa vai ser nossa, a gente não vai mais precisar pagar aluguel.
-Mas, vô, a minha casa é aqui! Tem grama!
-Lá vai ter grama também.
-Aqui é cheio de árvores e tem passarinho nelas.
-Lá vai ter também, vários deles.
-É?
-É, querida.
-Hummm- a pequena ficou pensativa- Mas aqui é meu lar!
O avô alisou o bigode vasto e grisalho.
-Minha querida, nosso lar é onde está o nosso coração.
A neta sorriu.
-Ah tá, então eu vou. Porque meu coração tá onde tu tá, vô.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

E aí

"Ei, baby" ele disse saindo do banho. O cabelo ainda molhado. O rosto fresco da água gelada do chuveiro. Na porta do quarto, balançou os fios louros pra trás e me lançou um sorriso de canto.
Me contive para não levantar da cama e enchê-lo de beijos. Sorri e me limitei ao um simples "oi, cara".
Aí ele ficou ali parado, me olhando e confesso que achei isso a maior maldade e a coisa mais querida do mundo ao mesmo tempo.
Vem aqui!, eu pensei desesperada. E ao mesmo tempo não queria que ele se mexesse. O quão adorável ele estava ali parado, na minha frente, eu nunca vou achar palavras para descrever exatamente.
E enquanto eu ficava ali naquela luta interna ele me esticou a mão. Glória!  E aí eu fui até ele.

E aí eu me joguei nos braços dele.
-E aí, cara.
-E aí, baby.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Algodão

A gata branca desfilava pelo muro alto e velho do casarão mais antigo da cidade. Era bonita a bichana. Pelo bem alvinho, olho bem claro. Parecia até amarelo, dependendo o jeito que batia o sol. Os bigodes finos e longos afastavam-se para mostrar dentinhos afiados e uma língua rosada e áspera, feito lixa nova.
Era bonitinha a gata branca do vizinho. Era bonitinho vê-la desfilar pelo muro alto do casarão. Ver as patinhas de algodão dançarem sobre os musgos do muro. Ela dava um ar limpo ao lugar. Aquela bolinha de pelos brancos parecia aliviar meus olhos das coisas imundas que eram obrigados a ver. 
A gata branca costumava desfilar pelo muro alto e velho do casarão toda tarde porque gostava de se exibir. Porém, mal sabia ela, que enquanto passava, aproveitava para acalmar meu coração.