quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Gratos

De pele gasta, de cabelos gastos e grisalhos a senhorinha se embala na cadeira da varanda. O vento balança os poucos cachos que haviam se desprendido de seu coque elegante. Os grisalhos fios roçam nas bochechas rosadas de Camélia enquanto ela olha pra frente. Sempre pra frente.
A vovózinha olha para seu jardim. Cheio de rosas, de margaridas e de camélias. As últimas, plantadas pelo seu marido, Onofre.
-Aliás, por onde anda o velho?- ela pensa em voz alta.
A resposta é um tilintar de vidros.
Onofre aparece na varanda com uma bandeja e copos lotados de suco de limão.
-Pra você, minha flor- ele diz entregando, trêmulo, um copo para a mulher.
Ela o pega sorrindo e bebe metade num gole só.
-Flores tem bastante sede- diz Onofre.
-É o que tu sempre me disse, meu velho.
-E a Carmem? Vem hoje? Aquela filha ingrata!
-Deve vir, se não deserdo ela.
Onofre ri.
-Tomara que ela traga as crianças. Faz tempo que o Benjamim e a Ana não vem.
-Faz tempo que o Benjamim e a Ana não são mais crianças, Onofre.
O velho revira os olhos.
-Que eles venham.
-Eles virão.
-Aliás, querida.
-Que foi?
-Feliz Aniversário.
-Obrigada, meu velho.
-Te amo, minha flor.
-Obrigada.
-Camélia...
-Te amo, seu velho bobo. Muito.
-Obrigado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário