segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sem deixar de ser

Se Valentina tivesse um diário, um desejo que há muito ela desistiu de tentar realizar, ele estaria repleto de detalhes e fofuras. Valentina gosta de detalhes e de fofuras. Os escreveria todos ali. Para ficarem para sempre registrados. Porque além de gostar de detalhes e de fofuras, Valentina também gosta de lembrar. O problema de Valentina, além da boa memória, que ás vezes pode ser um problema, é que ela não gosta muito de falar sobre si. Esta, na verdade, é a causa do fracasso do pobre diário que sempre nascia para desfalecer nas próximas páginas.
Valentina gosta de detalhes, de fofuras e de recordações. Valentina tem boa memória e na maioria do tempo ama isso. Valentina gosta de ser Valentina, aliás. Só não gosta de falar desse "ser" Valentina. Melhor, ela não sabe falar de como é ser Valentina.
Então, ela vai e cria um outro nome. Vira Lúcia, Andrea, Mariana. Se vira e desvira. Daí ela conta, fala, sabe o que dizer. Ás vezes mente, ah, vá lá, é ficção, afinal. Nem sempre é ela. Mas o bom é que quando é, nem todo mundo percebe. E assim ela se abre, se alastra. Pra não morrer sufocada nela mesma.
Para poder ser Lúcia, Andrea, Mariana, sem deixar de ser ela mesma. Sem deixar de ser Valentina.

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