terça-feira, 25 de junho de 2013

Café para dois

Fazia tempo que ela não sentava para tomar café com o marido. Olhou para o céu azul e decidiu que hoje seria um bom dia.
-Os hojes costumam serem bons dias - disse enquanto dobrava uma toalha vermelha antiga e separava duas canecas laranjas.
Saiu de casa assoviando, com as mãos enrugadas cheias do que carregar. Quando chegou ao Cemitério Municipal, uma brisa fresca agitou seus cabelos de prata. Sorriu. Geraldo a esperava logo na entrada. Amélia abriu os portões de ferro, chegou perto de Geraldo, estendeu a tolha vermelha no granito e olhou para o rosto do marido. Parado. Em preto e branco. Serviu as duas xícaras, bebeu uma. Esperou que esfriasse o café da outra.
-Sinto saudades - sussurrou Amélia para a lápide, enquanto passava os dedos pelas letras negras.

Geraldo Pereira 
Marido e pai amado
1944-2004

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