sábado, 21 de janeiro de 2012

Quem não tem cão...

Quando Anna entrou no apartamento bagunçado de Edgar o encontrou sentado perto da janela, observando a chuva, que caia lentamente, ainda de pijama. Seus olhos estavam azuis clarissímos quase beirando o cinza, parecidos com o céu lá fora. Ao ouvir os passos encharcados de Anna, Edgar desviou sua atenção da chuva e caminhou em direção a garota, sorrindo.
-Você está parecendo um cachorro vira-lata abandonado - observou ele, ao chegar mais perto torceu o nariz - E está cheirando feito um também.
Anna mostrou-lhe a língua, enquanto suas roupas pingavam grossas gotas de chuva no assoalho.
-Também te amo, querido - disse ela jogando um beijo no ar e correndo em direção ao quarto de Edgar.
Alguns minutos depois Anna estava de volta a sala, vestindo um roupão felpudo verde esmeralda. Edgar arqueou a sobrancelha esquerda sugestivamente e sorriu maliciosamente com o canto da boca.
-Você não está mais fedendo feito um cão abandonado- comentou.
-Isso foi um elogio? Ora, muito gentil da sua parte - riu Anna jogando-se no sofá vermelho de Edgar.
O rapaz suspirou.
-Está chovendo - disse ele.
-Está sim.
-Nosso piquinique já era.
-Há males que vem para o bem- devolveu Anna.
Edgar franziu a testa e seus olhos ficaram dois ou três tons mais escuros.
-Como assim? - ele quis saber.
-O bolo que eu fiz para o piquinique ficou péssimo - começou a explicar Anna- Aliás, estou usando como peso de papel no momento - disse ela em um tom meio tristonho.
-Já disse que você é dramática? Nas últimas 24 horas?- perguntou Edgar.
Anna deu de ombros.
-Não que eu lembre - pausa dramática- Mas, acredite... O bolo ficou ótimo... De peso de papel.
Edgar revirou os olhos.
-Coloque na chuva, aposto que ajudará- riu ele indo em direção a Anna e dando lhe um abraço de urso. Anna teve certeza que um de seus ossos (ou mais) estalou naquele momento, porém ela riu. Adorava quando Edgar fazia aquilo. Adorava mesmo.
Lentamente Anna foi deslizando e cuidadosamente se aconchegando no peito de Edgar. Enquanto ela sentia o coração dele e Edgar podia ouvir a respiração de Anna, o apartamento permanecera em silêncio. A chuva na janela e o relógio da cozinha eram as únicas coisas que se atreviam a fazer barulho.
De repente Anna colocou-se em pé em um salto ágil.
-Tive uma ideia- anunciou e saiu correndo para a cozinha.
A chuva e um ex bolo e futuro peso de papel não atrapalhariam seus planos.
Alguns minutos depois, Anna e Edgar estavam em um belo piquinique... No corredor do apartamento. Anna arranjara tudo: toalha xadrez, cesta, café, biscoitos... Menos o bolo, que fazia um excelente trabalho, onde estava, como peso de papel.

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