terça-feira, 19 de abril de 2016

Mais de meia hora

Era uma confusão de sons, de cheiros e de luzes. Os motores grunhiam, as rodas passavam e eu olhava ao redor. Tinha gente pra mais de metro, como diriam os antigos. Muitas se abraçavam, outras se beijavam e umas berravam "rodoviária, última parada!". E eu te procurava. Fazia meia hora que eu estava ali, de pé, procurando em cada par de olhos os teus.
Eu tinha chegado um pouco antes, é bem verdade, mas sempre me disseram que é deselegante fazer outra pessoa esperar. Mas, mesmo assim, eu esperava. Nunca fiz os outros esperarem, porém eu estava ali, te esperando fazia mais de meia hora.
De repente eu senti um sobressalto. Não tinha confirmado tua vinda e se não fosse hoje? Fosse no outro feriado? E se tu tivesse desistido de vir? De mim? O que eu faria com aquele bolo de cenoura que ainda estava quente e que eu prepara pra ti? O bolo eu comeria, mas e o aperto no peito? A gente engole com lágrimas? Não sei. Não sabia o que fazer. E nem saberia.
Porque quando achei que meu peito ia rachar de angústia tu veio.
Vi teus olhos entre malas, ombros, costas de outras pessoas. Aí eu soube certinho o que fazer com o bolo de cenoura, com o meu coração batendo forte e com os meus pés que começaram a correr em tua direção.
Mas a quanto tempo eu estava ali? Fazia bem mais de meia hora. Dane-se! Finalmente a espera terminara.

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