sexta-feira, 9 de agosto de 2013

De manhã cedo

O xalê cinza de Milena a protegia do frio. Cobria seus ombros e, misteriosamente, resaltava a beleza de seus olhos e cabelos escuros. A pele muito alva, lembrava o luar, e na opinião de Antônio, combinava com qualquer tom, de qualquer xalê ou vestido.
Milena estava ocupada, lentamente tomando sua xícara de chá, nem notara os olhos do marido nela. Em seus lábios.
-Que foi?- perguntou quando finalmente percebeu o olhar de Antônio.
-Só te admirando, acho que é algo que vale a pena fazer de manhã cedo.
-Ora, que coisa linda de se ouvir logo de manhã!- respondeu Milena com um sorriso- Isso é porque já se vai? Chegou anteontem e já me deixa hoje?
Antônio riu. E a cozinha se encheu daquela energia grandiosa de que era feito Antônio. O Antônio de Milena.
-Nunca te deixo, Lena.
Ela sorriu de novo.
-Eu sei- ela estendeu a mão para ele, por alguns segundos e a recolheu- e que não demore, também! Não gosto de ficar aqui sozinha, ouvindo o chão ranger sob meus pés. Rodrigo não para em casa, é o mesmo que nada. Tu, não demore, Antônio, não ouse.
Antônio gargalhou.
-Te aquieta, vou num pulo e volto noutro. Chego a tempo do chima da tardinha. Le juro. *
-Bom. Isso é algo que vale ouvir de manhã cedo.


*Sim, amiguinho, eu quis dizer "le" e não "lhe". Tem diferença, perceba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário