sexta-feira, 23 de março de 2012

A volta

-Sherlock, estamos novamente sem leite- digo após vasculhar a geladeira.
-Hummm- eu ouço dizer.
Sem me virar posso vê-lo esticar-se preguiçosamente no sofá, vestindo seu roupão azul, totalmente entediado. Porém ele não estava lá. Havia muito tempo...
Eu estava vendo coisas, ouvindo sua voz e imaginando quais seriam suas reações, mas ele não estava ali. Desde o dia em que ele... Sacudo a cabeça, jogando o pensamento para longe. Afinal, o que eu fazia aqui? No flat, no 221b, na Baker Street...?
Eu tinha dito a Mrs Hudson que não voltaria... E agora eu estou aqui, há dois dias. Não sei o que me trouxe de volta após tanto tempo. O que sei é a falta que meu amigo faz não diminui. E pela segunda vez hoje ouço sua voz. Desde que voltei á Baker Street tenho tido esses lampejos. Misturas finas de memórias e delírios. Mas o que eu espero? Estou aqui onde tudo lembra nossas aventuras. Olho para os arranhões na mesa, o crânio, os papéis em cima da mesa. Um nó forma-se em minha garganta.
Certa vez Mycroft disse que eu sentia falta da guerra, o que poderia até ser verdade, mas nada comparado ao que sinto agora. Sozinho aqui. Esperando que Sherlock abra a porta bruscamente, com aquele brilho nos olhos que carregava somente quando tinha um caso urgente a solucionar. A mente de Sherlock rebelava-se á estagnação e meu coração luta violentamente para manter-se funcionando sem sua companhia. Porque eu acredito nele. Sempre acreditarei no meu melhor amigo. E de certa forma ainda espero seu retorno. Suspiro ao mesmo tempo que engulo o enorme nó que insiste em manter-se em minha garganta. Levanto em um salto. O que faço aqui afinal? Me torturando. Ouvindo a voz de Sherlock em cada canto. Vendo-o em cada cadeira, poltrona, em toda parte!
Então ouço passos hesitantes vindos da escada. Provavelmente Mrs Hudson trazendo uma bandeja com o chá. Já é hora do chá? Quanto tempo passei aqui sentando? Mas não ouço o tilintar da porcelana. E os passos não são tão hesitantes ou leves, como costumam ser os de Mrs Hudson. Seria Lestrade? Ou Mycroft? Souberam que estou aqui e... E o que?
De repente o som de passadas acaba. Quem quer que seja está atrás da porta fechada. Hesitando. Lestrade e Mycroft não são do tipo que hesitam, penso enquanto a maçaneta é girada lentamente. Tão lentamente que me pergunto quanto tempo eu permaneço imóvel a observando.
Finalmente a porta é aberta. E o que vejo faz minhas pernas tremerem e eu preciso me apoiar na parede para não cair.
-Jesus!- exclamo.
-Não, John. - disse Sherlock sorrindo- Sei que deve estar decepcionado porque achou que era Mrs Hudson com o chá, mas não se preocupe, ela vem logo em seguida. Agora, onde está meu violino?


Fanfic inspirada nos personagens de Sir Arthur Conan Doyle e na adaptção dos mesmos pela BBC.

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