quinta-feira, 5 de abril de 2012

Surpresas em um dia chuvoso

Desci do ônibus e abri o guarda chuva apressada. O irritante é que não havia apenas chuva. Havia também vento. Muito vento, que balançava meus cabelos para frente e gelava meus ossos. Enquanto caminhava rumo a meu apartamento pequeno e quentinho meu guarda chuva virou-se três vezes, me deixando desprotegida e molhando-me vigorosamente durante o tempo que eu tentava colocá-lo no lugar. Minhas botas marrons escureciam significativamente por conta da água que batia nelas.

Ao chegar em casa eu estava tremendo e encharcada. Joguei o guarda chuva trapalhão em um canto, minha bolsa no chão e eu mesma no sofá. Suspirei. Eu estava com frio e cansada. Tão cansada que não tinha forças para me levantar e colocar uma roupa quente. Gemi. Café! Eu preciso de café, café quentinho... Ouço algo caindo na cozinha e fico de pé em meio segundo. O coração batendo tão forte a ponto de doer.

Quando Almondegas surge na porta da cozinha começo a rir do meu pânico. Claro que fora meu gato atrapalhado que quebrara alguma coisa. Quando ele não quebrava algo?

-Você me assustou, seu inútil- disse enquanto caminhava na sua direção e o aconchegava em meus braços. Ele ronronou e eu sorri.

Lembrei que estava totalmente ensopada e soltei Almondegas que chiou e correu para sua cesta vermelha. Seus olhos verdes me acusaram de abandono por alguns segundos e então ele os fechou, adormecendo. Caminhei lentamente para meu quarto, deixando um rastro de pingos pelo trajeto.

Abri a porta do quarto e me dirigi á penteadeira. Soltei uma gargalhada ao me olhar no espelho. Não, não era pelo meu estado deplorável. Era pelo bilhete grudado nele. Em uma letra caprichada, escrita com uma caneta azul, havia a frase “Precisando de ajuda para se secar da chuva? Ligue gratuitamente para o Pablo. Com todo o amor do mundo e mais um pouquinho, seu noivo.”. Passei os próximos cinco minutos rindo. Só podia ser coisa do Pablo, acho que é por isso que o amo tanto e... Que barulho é esse? TEM ALGUÉM NO MEU BANHEIRO! Penso em Almondegas dormindo tranquilamente em seu cesto. Ok, não é ele. Tem alguém no banheiro do meu quarto! Olho para a penteadeira e pego meu perfume. Ah, ele custou tão caro... Mas é a única coisa que disponho para usar como arma. Ou talvez minha lixa de unha... Não, o perfume é melhor. Caminho lentamente em direção ao som do barulho. Então abro violentamente a porta do banheiro.

-Mia!

-Pablo!-sinto o alívio percorrer minhas veias quando o vejo, mas há algo estranho- Você está segurando meu batom vermelho?- olho para ele e para o batom, para o espelho e depois para ele novamente.

-Bom... Estou... Sabe, o bilhete no espelho do quarto não era a única surpresa para hoje.

Começo a ficar nervosa. Surpresas? Por quê? Que dia é hoje? Olho para o espelho do banheiro. Ele o estava enchendo de recados românticos e corações mal desenhados. Não que eu fosse lhe dizer que estavam mal desenhados...

-Ah, Pablo que lindo eu... Eu não preparei nada- sinto meu rosto ficar vermelho e de repente me lembro que estou molhada até os ossos- Eu acabei de chegar e...

-Eu sei- ele sorri- O ônibus chegou mais cedo e atrapalhou meus planos. Ouvi você entrando e me escondi aqui e enquanto eu esperava...- ele indicou o espelho com a cabeça.

-E qual era o plano? Ficar preso aqui até o dilúvio passar?

-A princípio, sim-confessou ele- Quer ideia melhor para comemorar nosso aniversário?- ele riu.

Nosso aniversário. Isso explica as surpresas. Os bilhetinhos nos espelhos. E eu havia esquecido. Socorro! Teria que improvisar...

-Eu tenho uma ideia melhor- por sorte Pablo percebeu o meu tom malicioso sem eu precisar me esforçar muito.

-Ah, é?- ele se aproximou- Estou ouvindo...

Almondegas surgiu nesse instante miando como se ele houvesse levado um tiro nos rins. Me virei irritada.

-Que foi agora?

Miiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaau, foi a resposta que recebi. Bufei. Comida, o bichano queria comida.

-Já volto-disse virando-me para Pablo- Depois precisarei de sua ajuda- disse.

-Espero que seja para se secar da chuva- respondeu ele.

-Ou para amarrar esse gato no pé da mesa e impedi-lo de nos perturbar. O que for mais necessário.

Saio do quarto rindo e com a sensação de que a primeira opção seria a escolhida.

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