O Sol começava a se por quando Justine finalmente chegou ao
penhasco. Lá embaixo as ondas batiam com violência nas pedras. Isso, porém, não
tirava o encanto daquele mar escuro. Tão escuro quanto os olhos cheios de
saudades de Justine.
Ela suspirou e enquanto pousava a mão no peito, olhou para o
horizonte. Procurando alguém que não tinha certeza se encontraria. Porque nem
sempre achamos o que desejamos no horizonte.
Charles sumira há dez anos. A nunca prova de que ele
existira e tudo não passara de um sonho era a carta amarelada que Justine
trazia consigo.
“Justine,
Acho que você só entenderá isso em alguns anos, mas preciso
ir. Apenas não fique brava comigo. Entenda. E me espere, eu voltarei. Você
consegue? Me esperar um pouco? Tentarei ser o mais breve possível. Logo voltarei
para você
Com amor,
Charles.”
Ela já conhecia cada palavra que Charles colocara na carta,
cada linha, tudo estava em sua mente. Tudo decorado. Com o passar dos anos ao
invés de esquecê-la parecia que as letras se intensificavam. E as lembranças
também.
Ao tirar os olhos do velho papel, Justine os pousou no
horizonte. O que era aquela sombra? Mais um navio qualquer? De repente o
coração de Justine pareceu sair do compasso normal e suas pernas quase se
esqueceram de como se manterem firmes.
-Charles?-ela sussurrou.
Alguém, um homem, parecia acenar para ela, do convés da velha
embarcação.
-Charles!- ela gritou, fazendo suas cordas vocais arderem. E
o homem acenou de volta, com mais animo.
Ás vezes não encontramos o que procuramos no horizonte.
Porque não é a hora, porque não era o que deveríamos encontrar. Mas Justine
soube procurar, soube continuar buscando. Demorou dez anos, mas sua busca tinha
terminado. Justine finalmente tinha encontrado seu amor, na linha do horizonte.