Pedro encontrou Alice esparramada no sofá. O cabelo cor de fogo preso em um rabo de cavalo desajeitado. Algumas labaredas vermelhas saindo rebeldes do penteado. Ela escrevia em um caderno.
-Olá-disse sem tirar os olhos do papel.
Pedro aproximou-se.
-Sai- disse ela, mais uma vez sem tirar os olhos das linhas que escrevia
Ele arregalou os olhos azuis.
- O que houve? Juro que aquele vaso já estava quebrado e...- Alice levantou o olhar e riu- Não foi o vaso, né?
-Não, estou escrevendo uma carta para você. E, como vê, não a terminei, muito menos a enviei, então: sai!
-Al, querida, eu moro aqui.
-Eu sei- ela escrevia mais rápido agora, os olhos escuros se estreitaram um pouco- Por isso vou mandá-la para cá.
Pedro balançou a cabeça rindo. Maluquinha essa minha Alice, pensou.
-Que esperta- disse.
-Que irônico- ela devolveu.
Silêncio. Alice sorriu e largou a caneta.
-Acabei.
-Agora posso ler- Pedro estendeu a mão e levou um tapa de advertência. Três listras vermelhas surgiram em sua pele.
-Não. Já disse, vou te mandar. Espere.
- E do que se trata a carta mesmo?
-Só posso adiantar o final.
-E o que diz o final?
"Eu te amo"- respondeu ela.
-Bem previsível.
-Bem verdade.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
Café de madame
James olhava espantado para madame Elise. O que ela dissera mesmo?
-Hoje eu farei o café, James- repetiu ela- Sente-se e aproveite- disse.
James piscou.
-Sim, senhora- obedeceu ele, confuso.
O mordomo caminhou até a sala de jantar. Sentou. Ouviu sons metálicos vindos da cozinha. Pensou em ir até lá.
-Estou bem- gritou madame Elise.
Longos trinta minutos se passaram. Ou seriam mais? Madame Elise surgiu sorridente, equilibrando uma bandeja de prata nas mãos delicadas.
James franziu o cenho. Estava preocupado. Não sabia quem socorrer primeiro: madame Elise ou a bandeja. Por sorte, tudo chegou em segurança na imensa mesa de carvalho.
-Ufa- sussurrou James, aliviado.
Elise estava tão empolgada que não ouviu. Seus olhos brilhavam.
-Beba, James, beba!
O mordomo olhou preocupado para sua xícara cheia.
-Estou bem, madame- ele fez menção de levantar-se.
-Deixa de ser fresco e beba logo!- ordenou ela
James agarrou a xícara e bebeu. Seus olhos se arregalaram. Silêncio.
-Está... Magnífico- sinceridade escorria dos lábios do mordomo.
Madame Elise sorriu:
-Obrigada, James querido. Agora só falta organizar a cozinha...
Ele lembrou-se dos ruídos alarmantes que ouvira enquanto esperava. Sua testa se franziu em forma de preocupação.
- Eu faço isso, madame. É minha função.
Elise pegou seu braço e o enlaçou.
-Vamos juntos, James.
-Como sempre- sorriu ele.
-Como sempre- concordou ela.
-Hoje eu farei o café, James- repetiu ela- Sente-se e aproveite- disse.
James piscou.
-Sim, senhora- obedeceu ele, confuso.
O mordomo caminhou até a sala de jantar. Sentou. Ouviu sons metálicos vindos da cozinha. Pensou em ir até lá.
-Estou bem- gritou madame Elise.
Longos trinta minutos se passaram. Ou seriam mais? Madame Elise surgiu sorridente, equilibrando uma bandeja de prata nas mãos delicadas.
James franziu o cenho. Estava preocupado. Não sabia quem socorrer primeiro: madame Elise ou a bandeja. Por sorte, tudo chegou em segurança na imensa mesa de carvalho.
-Ufa- sussurrou James, aliviado.
Elise estava tão empolgada que não ouviu. Seus olhos brilhavam.
-Beba, James, beba!
O mordomo olhou preocupado para sua xícara cheia.
-Estou bem, madame- ele fez menção de levantar-se.
-Deixa de ser fresco e beba logo!- ordenou ela
James agarrou a xícara e bebeu. Seus olhos se arregalaram. Silêncio.
-Está... Magnífico- sinceridade escorria dos lábios do mordomo.
Madame Elise sorriu:
-Obrigada, James querido. Agora só falta organizar a cozinha...
Ele lembrou-se dos ruídos alarmantes que ouvira enquanto esperava. Sua testa se franziu em forma de preocupação.
- Eu faço isso, madame. É minha função.
Elise pegou seu braço e o enlaçou.
-Vamos juntos, James.
-Como sempre- sorriu ele.
-Como sempre- concordou ela.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Sobre você e seu perfume
Teu perfume chegou até mim antes de você. Antes do teu sorriso e olhos encantadores. Já te disseram que seus olhos são incríveis? De qualquer maneira, foi teu cheiro que senti primeiro. Lembro que sorri e olhei para a minha esquerda. Então, eu te vi.
Parecia uma miragem. Era bem verdade que fazia calor e eu estava com sede, mas isso não é importante. Eu te vi e logo me apaixonei. Nem todo mundo é tão simpático comigo como você foi. Sabe, as pessoas costumam fingir que não veem as camareiras. Porém, é só encontrar a cama desarrumada para lembrarem seu nome, sobrenome e RG.
Você foi educado e gentil desde o primeiro instante. Queria que soubesse disso. Que foi especial desde o primeiro momento.
Feliz Aniversário de dois anos, meu amor. Espero que goste do perfume.
Parecia uma miragem. Era bem verdade que fazia calor e eu estava com sede, mas isso não é importante. Eu te vi e logo me apaixonei. Nem todo mundo é tão simpático comigo como você foi. Sabe, as pessoas costumam fingir que não veem as camareiras. Porém, é só encontrar a cama desarrumada para lembrarem seu nome, sobrenome e RG.
Você foi educado e gentil desde o primeiro instante. Queria que soubesse disso. Que foi especial desde o primeiro momento.
Feliz Aniversário de dois anos, meu amor. Espero que goste do perfume.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
James e Elise, Elise e James
Madame Elise levou a xícara de porcelana até seus lábios rosados. Saboreou o chá quente, lentamente.
-Delicioso, James- ela sorriu.
O mordomo, de luvas impecáveis, fez uma pequena mesura.
-Obrigada, madame. São de ervas da sua horta.
-Sua horta, James- corrigiu gentilmente Elise- Eu não faço nada por ela. Quem cuida de tudo é você.
O mordomo sorriu e retirou-se.
Madame Elise estava sozinha. Olhou para a imensa sala. Vazia. Do que ela valia, afinal? Quanto custara todo aquele mármore? Suspirou. Ninguém respondeu. Afinal, pedras, por mais caras que sejam, não falam. Um sorriso tristonho surgiu em seus lábios finos.Ela tinha James, que era mais que um amigo, mais que um amor. Que vestia aquele uniforme de mordomo por mera formalidade.
De repente, o sorriso de madame Elise cresceu. E, como por encanto, deixou de ser triste.
James tinha voltada para sala. As cores da sala tinham se tornado mais vivas. O mármore parecia ter aquecido e, finalmente, cumprido seu dever de embelezar o local.
Agora, tudo estava bem. Tudo fazia sentido.
-Delicioso, James- ela sorriu.
O mordomo, de luvas impecáveis, fez uma pequena mesura.
-Obrigada, madame. São de ervas da sua horta.
-Sua horta, James- corrigiu gentilmente Elise- Eu não faço nada por ela. Quem cuida de tudo é você.
O mordomo sorriu e retirou-se.
Madame Elise estava sozinha. Olhou para a imensa sala. Vazia. Do que ela valia, afinal? Quanto custara todo aquele mármore? Suspirou. Ninguém respondeu. Afinal, pedras, por mais caras que sejam, não falam. Um sorriso tristonho surgiu em seus lábios finos.Ela tinha James, que era mais que um amigo, mais que um amor. Que vestia aquele uniforme de mordomo por mera formalidade.
De repente, o sorriso de madame Elise cresceu. E, como por encanto, deixou de ser triste.
James tinha voltada para sala. As cores da sala tinham se tornado mais vivas. O mármore parecia ter aquecido e, finalmente, cumprido seu dever de embelezar o local.
Agora, tudo estava bem. Tudo fazia sentido.
sábado, 19 de janeiro de 2013
Primeira vez
Charlotte vira o primeiro cadáver de sua vida. Deitado, de bruços no chão. Uma poça vermelha perto da cabeça. Sentiu cheiro de ferrugem. Cheiro de sangue. Parecia que um nó se instalara em sua garganta para nunca mais sair. Charlotte se afastou. Procurou Nikolai.
Ele estava mais adiante, perto da entrada. Seus dedos pálidos gesticulavam, enquanto conversava com o policial que encontrara o corpo. Nikolai Petrova parecia calmo. E, Charlotte poderia jurar, se não conhecesse o detetive, que ele seria o assassino. Tamanha era sua familiaridade com tudo aquilo.
Os olhos castanhos dele a encontraram. Pareceram preocupados por um instante.
-Vamos embora, garota, você já viu demais por hoje- disse Nikolai estendendo a mão.
Charlotte a segurou. Queria sair logo dali. Mal sabia ela que sonharia com aquele lugar, por muitos anos ainda.
Ele estava mais adiante, perto da entrada. Seus dedos pálidos gesticulavam, enquanto conversava com o policial que encontrara o corpo. Nikolai Petrova parecia calmo. E, Charlotte poderia jurar, se não conhecesse o detetive, que ele seria o assassino. Tamanha era sua familiaridade com tudo aquilo.
Os olhos castanhos dele a encontraram. Pareceram preocupados por um instante.
-Vamos embora, garota, você já viu demais por hoje- disse Nikolai estendendo a mão.
Charlotte a segurou. Queria sair logo dali. Mal sabia ela que sonharia com aquele lugar, por muitos anos ainda.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Gosto de infância
O circo chegou, me contou um vizinho. Sorri. Há quanto tempo eu não ia ao circo? Tentei lembrar. Não consegui. Fui até lá. Dei de cara com uma lona enorme. Azul da cor do céu. Meu sorriso se alargou. Entrei. Sentei. Ri. Chorei.
E depois de tanto algodão doce, voltei para casa, com gosto de infância, no céu da boca.
E depois de tanto algodão doce, voltei para casa, com gosto de infância, no céu da boca.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Primeira lição
O barulho encheu a pequena sala de Nikolai.
Charlotte saltou do sofá mal cuidado.
Charlotte saltou do sofá mal cuidado.
-Alguém morreu!-gritou ela.
-Primeiro: você parece uma agente funerária comemorando a
morte de alguém dessa forma. Controle-se- Nikolai disse e Charlotte murchou- Segundo:
Não sabemos se alguém morreu, o tiro pode não ter sido fatal. Terceiro: vamos
descobrir isso agora, saindo daqui, corre, garota!
Os dois correram prédio abaixo, rua abaixo, até se depararem
com uma van parada no meio da rua. Um homem gritava na frente dela. Agitando os braços.
-Maldito escapamento!-berrou
Charlotte olhou em volta. Onde estava a vítima? Olhou para
atrás e viu Nikolai andando cabisbaixo. Fazendo o caminho de volta. Ele se virou.
-Vamos, garota- disse para Charlotte.
Charlotte entendeu. Ninguém morrera. Ninguém levara um tiro. Nem fora um tiro.
-Maldito escapamento!- ela gritou em coro com o motorista
infeliz.
Naquele instante, Charlotte aprendera sua primeira lição como detetive: nem
tudo é, ou soa, como parece. Ela sorriu. Essa ela levaria para a vida.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Inércia criminal
Nikolai bocejou. Charlotte bocejou. O detetive particular e
sua aprendiz não tinham nenhum caso desde... Bom, desde que começaram a
trabalhar juntos.
Charlotte começara a pagar para que Nikolai Petrova a
ensinasse as manhas de sua profissão. Porém, até agora, eles não tiveram nenhum
caso. Nada fora roubado, ninguém fora sequestrado ou morto. Inércia absoluta no
mundo do crime.
-Que cidade feliz e pacata, meu Deus, eu vou morrer de
tédio!- exclamou Charlotte jogada no sofá velho do escritório de Nikolai.
Como ela aprenderia alguma coisa sobre ser uma detetive se
nada, absolutamente e absurdamente nada, acontecia?
-Tirou as palavras da minha boca, garota- disse Nikolai carrancudo,
observando a cidade pacífica.
-Não me chame de “garota” como se fosse muito mais velho que
eu- reclamou a jovem.
-Desculpe... Garota- respondeu ele de forma jovial.
-Rá, rá.
Suspiros. Nikolai observou Charlotte. No final das contas,
ela era uma pessoa legal. Não era mimada
e esnobe, como ele pensara. Mas, tudo bem, até detetives erram.
-Quem sabe se a gente assaltasse um banco, ou sequestrasse a
filha do bancário ou...
-Se vê que é rica-interrompeu Nikolai- Só fala em bancos.
-Se vê que é pobre, só me escuta quando falo em bancos e
dinheiro- devolveu ela, ligeira.
- Argh. Se ninguém for assassinado nessa cidade, eu morrerei
de tédio- disse Nikolai e Charlotte concordou.
Então, os dois ouviram um tiro.
domingo, 13 de janeiro de 2013
Oi e tchau
Ele tinha olhos muito bonitos que não me viam. Uma boca
muito vermelha que não me dirigia a palavra e braços definidos que nunca me
seguraram.
Até o dia que derrubei a bandeja com todo meu almoço nos
tênis dele. Então, ele me viu com seus olhos lindos, ofereceu ajuda com sua
boca avermelhada e limpou a comida que caíra no chão, com seus braços
malhados.
Sussurrei um “obrigada”. E ele foi embora.
Com suas pernas compridas. Seus olhos claros, sua boca carnuda e seus belos braços.
domingo, 6 de janeiro de 2013
Sobre sair do tédio
-Estou entediada- disse Anna.
Edgar encarou-a. Os olhos dele hoje estavam acinzentados. De puro
tédio.
Os dois estavam esparramados no sofá, de frente para
televisão. Desligada. O controle remoto sobre a mesa da cozinha. Inconsciente
de sua alta relevância naquele instante.
-Ai, ai- suspirou Edgar, esperando que aquilo resumisse o
quanto estava cansado de absolutamente nada.
-Talvez a gente morra de tédio- profetizou Anna.
-Ninguém morre de tédio, Anna- replicou Edgar.
-Talvez morram sim, mas elas estavam muito entediadas para
avisar que seu fim estava próximo, então, ninguém ficou sabendo e constataram
que foi de tristeza que morreu a pobre pessoa.
-Ok, Sherlock. Boa
dedução.
Anna esboçou um sorriso.
-Eu não quero morrer de tédio, Edgar, me ajude!- implorou ela jogando os braços para cima. Uma atitude de total desespero.
-Eu tenho uma ideia...
-Não.
-Mas...
-Não.
-Ok.
Silêncio.
-E se a gente ligasse para o Pedro? Soube que ele comprou um
karaokê.
-Soube que a Alice não teve paz desde então.
Edgar bufou.
-Aposto que não estão entediados.
Anna estudou a ideia.
-Ok, vou me trocar.
Edgar sorriu. Um sorriso com um lado nas sombras do tédio e
outro na ideia de encontrar com amigos que tem um karaokê. Uma perfeita
oportunidade para se humilhar demonstrando a sua falta de talento vocal.
Perfeito! Adeus tédio, olá diversão!
sábado, 5 de janeiro de 2013
Domingo
É sempre no domingo. Não sei se ele percebeu isso. Mas, ele sempre aparece no domingo. Com aquele sorriso e ombros largos. Com aquelas piadas prontas, que mesmo assim, me fazem rir. Com o jeito estranho que ele mexe no cabelo e arqueia a sobrancelha esquerda. Uma vez por semana eu sinto seu perfume e ouço ele dizer meu nome. Poderia ser por mais vezes, eu gostaria que fosse. Mas é sempre no domingo.
Ele vem e espanta meu tédio justamente porque ele se sente assim... Entendiado.
Não, não contei isso a ele. Deixa assim, quem sabe na próxima semana eu diga alguma coisa. Quem sabe eu conte os detalhes a ele.
Quem sabe.
No próximo domingo.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Aulas para a morena
-A moça quer o que? - perguntou Nikolai, arregalando seus olhos castanhos.
Charlotte riu.
-Quero aprender a me tornar uma detetive, com você- esclareceu ela, jogando os cabelos para trás.
-Ah, claro! - Nikolai jogou as mãos para o alto- Simples!
-Exato.
-Eu fui sarcástico.
-Eu notei.
Nikolai bufou.
-Olha, garota, eu sou detetive particular, não professor particular- explicou ele, inclinando-se para frente.
-Exato. E eu disse que precisava dos seus serviços.
-Meus serviços são investigar e solucionar. Não, ensinar.
-Pago bem.
Nikolai abriu e fechou a boca. Hesitando. Então, era uma garota rica e mimada afim de pagar bem para brincar de Sherlock Holmes? Nikolai esfregou as têmporas. Bom, ele precisava de dinheiro. Charlotte tinha dinheiro. Ele era detetive (ou pensava que era) e Charlotte queria tornar-se uma. E pagaria para isso. Pagaria Nikolai para isso.
-Tudo bem, começamos amanhã. Agora saia, preciso terminar de comer minha pizza de ontem.
Charlotte riu.
-Quero aprender a me tornar uma detetive, com você- esclareceu ela, jogando os cabelos para trás.
-Ah, claro! - Nikolai jogou as mãos para o alto- Simples!
-Exato.
-Eu fui sarcástico.
-Eu notei.
Nikolai bufou.
-Olha, garota, eu sou detetive particular, não professor particular- explicou ele, inclinando-se para frente.
-Exato. E eu disse que precisava dos seus serviços.
-Meus serviços são investigar e solucionar. Não, ensinar.
-Pago bem.
Nikolai abriu e fechou a boca. Hesitando. Então, era uma garota rica e mimada afim de pagar bem para brincar de Sherlock Holmes? Nikolai esfregou as têmporas. Bom, ele precisava de dinheiro. Charlotte tinha dinheiro. Ele era detetive (ou pensava que era) e Charlotte queria tornar-se uma. E pagaria para isso. Pagaria Nikolai para isso.
-Tudo bem, começamos amanhã. Agora saia, preciso terminar de comer minha pizza de ontem.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Um caso com uma morena
Nikolai bebeu o café de anteontem em poucos goles. Três
xícaras se foram em espaço de tempo muito curto. Seu estômago reclamou.
-Calado- rosnou o detetive para própria barriga.
Barriga que, aliás, estava precisando de cuidados. Nikolai
Petrova suspirou. Estava cansado. Exausto de não fazer nada. Um detetive
particular jogado às moscas. Moscas que rondavam os restos da pizza de ontem. Jogados em um canto. Suspirou novamente. Outra coisa de que estava
cansado: suspirar. Foi para a janela do pequeno escritório. Observou a cidade
nublada. Olhou para o fim da rua. Quem dobrava a esquina correndo como se fosse
tirar o pai da forca? Uma moça. De cabelos escuros.
-Bonita- comentou em voz alta Nikolai.
Uma observação que não exigia dele nenhum de seus talentos
investigativos. Ela era obviamente linda. Ela era obviamente linda e estava
entrando no prédio onde ficava o escritório de Nikolai. Passos. O jovem correu para sua cadeira de
couro surrado. Fez pose. Esperou. Esperou. Será que a garota não tinha entrado
no prédio? Será que...
Dum. Dum. Dum. Batidas na porta. Uma cliente! A moça bonita
abriu a porta lentamente. Nikolai sentiu-se em um filme da Sessão da Tarde.
-Pois não?- perguntou enquanto a jovem entrava.
Ela sorriu.
-Olá me chamo Charlotte e preciso dos seus serviços-disse.
Anjos cantaram, sinos soaram, fogos de artifício romperam o céu. Nikolai
arrumara um caso. Um caso com uma bela morena. Um caso investigativo, claro.
-Então, sente-se. Temos trabalho a fazer.
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Lavanda
Tinha cheiro de fronhas e lençóis. Cheiro de lilás. De
lavanda. Aspirei seu perfume, longamente. Queria guardá-lo comigo. Seu aroma e
sua imagem. E aquela gargalhada que deu ao me receber. Queria guardar você.
Peguei uma foto sua. Aquela que você está de vestido vermelho
e rindo. Não estranhe se ela sumiu. Na verdade, está comigo. No bolso interno
do casaco, porque sei que você adora bolsos internos. E eu adoro você. Que isso fica claro, antes
que eu vá embora. Que você continue com seu perfume de lavanda, até a minha
volta.
Eu não demoro. Prometo.
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