Aquelas prateleiras de madeira sempre lhe chamaram. Feitas de madeira muito escura sustevam o peso de muitas histórias. Páginas e páginas de vidas. Vivida ou apenas inventadas. Ela amava aquelas prateleiras. Aqueles livros. O cheiro daquela sala antiga, gasta pelo tempo.
Sentou-se na poltrona vermelha, de veludo gasto e ficou a recordar. Tinha vivido, lido e relido tanto. As costas arqueadas e os olhos cansados eram vestígos disso. O sorriso tranquilo e alma leve eram a certeza disso.
Certeza de que aquelas praleteiras de madeira escura valeram a pena, que as histórias que elas guardam valem a pena. Que a vida dela, apesar de muitos discordarem, valia a pena.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Lá vai a Valentina
O Sol acordou Valentina exatamente daquele jeito que só ele sabe fazer (e ela adora). Devagar, com graça e delicadeza. Anunciando devagarzinho, "ei garota, hora de sair da cama".
Aí lá vai a Valentina, se acostumando que é hora de despertar, trocar a roupa de casa por roupa de rua. Trocar a cara amassada por um sorriso. Por alguns "bom dia".
Aí lá vai a Valentina, ouvir os pássaros, ouvir as gentes, fazer o que pedem, fazer o que ela considera necessário, fazer nada, fazer o que gosta.
Aí lá vai a Valentina, achar que o quarto tá muito abafado, abrir a janela, ficar com frio, se enrolar em um edredom, em uma lembrança, em um moletom.
Aí lá foi a Valentina. Caiu no sono. Não sonhou com nada. Mas foi acordada pelo Sol.
Daquele jeito que só ele sabe fazer. Devagar e delicado.
Aí lá vai a Valentina, se acostumando que é hora de despertar, trocar a roupa de casa por roupa de rua. Trocar a cara amassada por um sorriso. Por alguns "bom dia".
Aí lá vai a Valentina, ouvir os pássaros, ouvir as gentes, fazer o que pedem, fazer o que ela considera necessário, fazer nada, fazer o que gosta.
Aí lá vai a Valentina, achar que o quarto tá muito abafado, abrir a janela, ficar com frio, se enrolar em um edredom, em uma lembrança, em um moletom.
Aí lá foi a Valentina. Caiu no sono. Não sonhou com nada. Mas foi acordada pelo Sol.
Daquele jeito que só ele sabe fazer. Devagar e delicado.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Leve
Tinha no ar aquele cheiro de carne gorda assando, que fazia
Rodrigo lamber a boca e querer morder os próprios lábios. Faltava pouco pra uma
da tarde e pro churrasco do seu Antônio ficar pronto. Enquanto Rodrigo esticava as pernas embaixo
do velho salgueiro, viu Mariana saindo da casa. De vestido branco de renda, os
cabelos bem escuros presos em uma trança longa.
Acenou pra ela. A moça acenou de volta, riu e correu ao
encontro dele.
-Que fome! Ainda bem que teu pai me disse que não falta
muito pra carne ficar pronta – veio logo dizendo.
Rodrigo estendeu-lhe a mão e ela se jogou na grama, ao seu
lado. Os dois ficaram ali, ouvindo os passarinhos, vendo a grama a favor do
vento, sentindo o cheiro da carne quase pronta.
-Vou sentir tua falta- disse Rodrigo depois de um bom tempo.
Mariana sorriu.
-Mesmo se eu continuar aqui?
Rodrigo abriu e fechou a boca umas três vezes. Que foi que a
guria tinha dito?
-Eu não vou embora, Rodrigo. Quer dizer, teu pai e tua mãe
me convidaram pra ficar mais. Eu aceitei. Só se tu te incomoda e ...
Rodrigo puxou Mariana pra si e lhe deu o abraço mais
apertado de que se recordava ter dado a alguém. Segurou Marina pela cintura até lhe faltar forças nos braços.
Só a soltou quando teve a sensação que poderia quebrá-la.
-Será muito bem-vinda – disse ele por fim.
Mariana abriu seu sorriso de pérola.
-Obrigada, é bom saber. Agora vamos, teu pai tá nos chamando
lá da varanda.- Rodrigo continuou onde estava, olhando pra ela- Ligeiro, antes
que a gente tenha que disputar os ossos com o Pelego.
Mariana afagou as orelhas do cachorro que estava em volta
dos seus pés há um tempo. Levantou-se e saiu.
Leve com seu vestido de renda branca.
Leve como o vento.
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